Minha amiga Marina
Então vamos a conclusão,
Você daí e eu daqui
Comungando a união
De dois bons cordelistas,
Pois teremos a conquista
Cordelando com emoção.
Se seu pai é ciumento
Diz logo para ele
Que estamos só brincando
Sem o consentimento dele
Diz também pra dona Maria
Que vou aí qualquer dia
Tomar um café daquele.
O povo diz que aí
Tem um saboroso café
Colhido do quintal
Em cada ramo do pé
O daqui não tem brilho
Pois é torrado com milho
Você sabe como é!
Há muito tempo estou
Querendo aí conhecer
A fazenda Cachoeirinha
Para as belezas eu ver
E também apreciar
A melodia do sabiá
Cantando ao amanhecer.
Daí eu quero ver
Olhando o horizonte
O sol se escondendo
Devagar por entre os montes
Trazendo um céu estrelado
E um luar encantado
Que prateia a água da fonte.
Voltarei a ser criança
Para banhar lá no rio
Que tem as águas geladas
Causando muito arrepio
Lembrarei da correnteza
Trazendo sua beleza
Enfrentando os desafios.
Desafios, digo a você:
Por causa da poluição
Já não temos as águas
Que vinha lá do grotão
Muitas já estão fedidas
Implorando guarida
Ao governo da nação.
Sabe amiga Marina
O progresso é bom demais
Mas ele está arrasando
Deixando mortes a mais
Os esgotos despejados
Matam peixes, que afogados...
Deixam a fome para trás.
No Ferrugem já não banho
No Água Preta também
Dois rios contaminados
Com os esgotos de Itanhem
Assim não dá pra viver
Vendo o rio morrer
Sem o apelo de ninguém.
Só nós os poetas
Falam da contaminação
Denunciam o ocorrido
Para toda uma nação
Mas algo não estão fazendo
E o progresso só trazendo
Para nós a destruição.
Você aí na Cachoeirinha
Ainda pode respirar
O ar puro do mato
Sem a poeira do ar
Aqui até o calçamento
Faz o aquecimento
Que é o jeito suportar.
Agora fale de você
E da vida que vai levando,
Fale do seu quintal
Mesmo do galo cantando
Escreve a natureza
Trazendo as belezas
Nos galhos balançando.
Fale dos passarinhos
E de seus ninhos pendurados
Da grandeza de Deus
Deixando o tempo nublado
Fale da chuva na roça
Molhando a sua palhoça
E do feijão já vingado.
Fale dos pingos que caem
Cantarolando no terreiro
Também do querosene
Que dá luz ao candeeiro
Descreve a noite escura
E de você a criatura
Que sempre vem em primeiro.
Fale dos sapos no brejo
Fazendo seu coaxar
Da passarada cantando
Alegrando este lugar
Eu acho uma coisa boa
Ver as danças das taboas
Soltando sementes no ar.
Fale tudo que quiser
No exercício da rima
Aprenda enquanto é nova
Tenha fé em você menina
Um pouco já estou sabendo
E só aprende fazendo
Com perfeição e estima.
Quero ver no amanhã
Sendo a primeira da lista
Com perseverança e fé
Você verá a conquista
E se aprender bem
Será em Itanhem
Uma mulher cordelista.
Lembre-se que cordel
Lê-se ritmado
Sete pés ou sextilha
É a que tenho usado
Aoler com melodia
Agente sente alegria
De mais um fabricado.
As regras do cordel
São claras no que diz
Cordel sem ta rimado
É como quadro sem giz
Sem rima é como comida
Que sem sal fica enxavida
E dessa eu nunca quis.
Um abração Marina
Fique com deus e até mais
Abraços para os irmãos
Também para seus pais
Sua família é uma beleza
Deus te deu esta riqueza
Não a despreze jamais.
