Desafia-me o escrevente
A que lhe faça algo bom,
Para deixá-lo contente,
No fundo do coração.
Entretanto, eu já prefiro
Parecer eqüidistante,
Para manter meu retiro,
Com sabor bem refrescante.
Parece pasta de dente
Isso que acima escrevemos.
Fica triste este escrevente,
Pelas trovas que fazemos.
Gostaria ele de ver
O tempo com mais proveito,
Mas precisa compreender
Que estamos aqui sem jeito.
O que é fácil para nós
É repetir os versinhos,
Com rimas que não dão nós,
Nem precisam de carinhos.
Sendo assim, eternamente,
Vamos ficar por aqui,
Estando sempre presente
O trejeito do sagüi.
Esse bichinho que pula
Deste galho para aquele,
Já que tem imensa gula
De sempre ficar na dele.
É preciso compreender
O cotejo que fizemos,
Para ser possível ver
As razões que sempre demos.
Os textos do dia vão,
Bem aos poucos, se fixando,
Mas não em seu coração,
Com resultado nefando.
Faríamos bem melhor,
Se desistíssemos logo?
Talvez fosse bem pior,
Pois nesse “time” eu não jogo.
Vamos só testando as rimas
Que se aprestam de repente,
Para entender estes climas
Que doem na pele da gente.
Completado o treinamento,
Seguiremos bem felizes.
O que vem, em seguimento,
Mostrará fortes raízes.
Pedimos, pois, ao amigo
Que trabalhe sem desânimo,
Que não rompa o fio do umbigo
Que nos alimenta o ânimo.
Às vezes, não tem a rima
Um futuro surpreendente,
E apelamos para o clima
Que fere a pele da gente.
Veja só que bonitinhos
‘Tão ficando estes versinhos,
Mimosos, bem mimosinhos,
Cheios de diminutivos.
Parece até que esta gente
Que atormenta este escrevente,
Dando ares de contente,
Não tem sentimentos vivos.
Não só fazemos a crítica
Como também censuramos.;
Se não for boa política,
Os versinhos completamos.
De qualquer modo, o escrevente
Vai tirar de letra tudo,
Pois que devolve p’ra gente
Toda forma e conteúdo.
Sentimos não dar prazer,
Neste treino diuturno:
Seria melhor de ver
Que esse jeitão tão soturno.
Perdoe-nos os gracejos:
Foi a forma que inventamos,
P’ra rimar os seus desejos,
Co’ o treino que propiciamos.
Por outro lado, queremos
Conhecer as liberdades
Destes poemas que vemos
Tão cheios de qualidades.
Queremos também dizer
Da nossa facilidade
De o metro estabelecer,
P’ra nossa felicidade.
Sabemos contar as sílabas,
Escandindo bem os versos.;
Mas as rimas atrapalham,
Em alguns finais perversos.
Seremos originais,
Repetindo os mesmos sons?
Só nos versinhos que tais,
Em que se ouvem ronrons.
O médium deseja ver
O que podemos fazer,
Se algo formos dizer,
Com responsabilidade.
Eis aí o desafio,
Porquanto algo mais bravio
Nos ameaça o navio,
Em meio da tempestade.
Que lhe parece, amiguinho?
Você se sente sozinho,
Ou percebe, de mansinho,
A presença desta gente?
Não vamos dizer besteira,
Não seguiremos na esteira
De quem esteja na beira
De fazer algo indecente.
Pois só temos compromisso
De apresentar o serviço
Deste treino. E é só isso
Que prometemos fazer.
Se quiser algo mais sério
Que tumbas no cemitério,
Que cego no eremitério,
Não ficaremos p’ra ver.
A vida é algo terrível
Que assusta bem muita gente.;
Não será, portanto, incrível
Quem se mostre sorridente,
Trazendo na dentadura
Quatro falhas bem na frente?!...
Ao chegar a despedida,
Vamos fazê-lo sem riso:
Seria de pouco siso
Desrespeitar sua vida.
Mas queremos um sorriso
Que deixe bem comovida
Esta gente tão querida,
Que lhe deixa tanto aviso.
Sem mostrar ouvidos moucos,
Nós faremos ir, aos poucos,
Esta sua inspiração.
Que Deus mande, com carinho,
Bênçãos que encham seu ninho
De amor, de luz, de canção.
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