Muito se tem escrito sobre o fogo. Seja o fogo do inferno ou o de jovens viúvas, há inúmeros tratados sobre o tema e até uma universidade inteiramente dedicada ao estudo do fogo, em todos os seus aspectos. Trata-se da famosa e internacionalmente Hotfire University, no sul da Irlanda do Norte. Ou será no norte da Irlanda?. Não importa.
Mesmo se considerarmos o restrito tema do fogo para churrasco que hoje é uma das minhas preocupações mais íntimas, veremos que há um número muito grande de estudos, livros, manuais e sítios internet. Todo um ramo da ciência foi desenvolvido para analisar, descrever, formular teorias sobre o fogo para churrasco.
Entre os muitos aspectos considerados nos estudos, o que merece maior atenção é a fase inicial. A ativação, o acender. É natural, pois todo o domingo pode ser comprometido por um fogo mal aceso. As expectativas de um almoço farto. Carne sangrando para a menininha, carne passada para a vovozinha, ao ponto para o doutor. Muitos passam a semana na expectativa do churrasco de domingo e tudo isto pode ser perdido se o fogo não é feito na hora certa e, sobretudo, na intensidade certa.
Há inúmeras técnicas para acender o fogo do churrasco, a maioria delas baseada no princípio de que algo além do carvão deve ser usado para a ignição. Como nos velhos carros a álcool que tinham um pequeno reservatório de gasolina. Bolinhas de pão embebidas em rum envelhecido em tonéis de pau-brasil, pequenos pedaços de algodão dormido no sereno e aquecido no forno de microondas. Não há churrasqueiro que nunca tenha feito uma piràmide de carvão ao redor de uma garrafa que retirada antes da ignição. Ultimamente tem-se falado muito num ritual sudanês que além de acender o fogo, daria poderes afrodisíacos à carne assada segundo certas condições. Confesso que não levei muito a sério. Prefiro jogar álcool sobre o carvão e depois um fósforo aceso. Cuidado, não inverta a ordem que pode ser perigoso.
Como se pode ver, esta questão do fogo de churrasco é como a das dietas. Há muitas teorias, muita especulação misturada com o estudo sério e é difícil para o leigo identificar os charlatões antes de cair em seus golpes. Por isso, recomendo cuidado. Não vá fazer fogo de churrasco segundo qualquer palpite. Prepare-se, instrua-se.
Por último, é necessário falar da grande maldição do fogo de churrasco, o chamado "fogo frio". Trata-se de um fogo dúbio. Queima a mão mas não assa a carne. Com este fogo, o máximo que se consegue é esquentar pão. Naturalmente, nenhum churrasqueiro que se preze está aí para esquentar pão. É triste quando se descobre que o fogo está frio. Pior é saber que nada pode ser feito.
Muitos não se dão por vencidos e servem carne crua mesmo. Mas há quem assuma.