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cronicas-->Pé de galinha -- 04/01/2003 - 17:36 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há quem não saiba, mas originalmente as galinhas tinham pés. Enrugados e com vários dedos. Os pés de galinha eram usados para canjas e outros preparos menos nobres. Naturalmente isto se dava no tempo em que se embrulhava carne com jornal.

Depois, com a evolução das espécies e a tecnologia, as galinhas passaram a vir ensacadas e sem pés nem cabeça.

Sem utilidade, os pés de galinha migraram para os rostos das pessoas de meia-idade. Como todos sabem, o chamado pé-de-galinha nada mais é do que um conjunto de inoportunas rugas que se alojam ao redor dos olhos, formando o desenho característico. Pés de galinhas e olheiras fazem a combinação ideal para quem queira parecer um morto-vivo.

Chega uma idade, nem tão avançada como poderia parecer, em que o tal pé-de-galinha chega, ciscando o rosto do incauto e vai se instalando como que num poleiro. Lá fica. É preciso ficar atento. Se não antes, nesta hora há que iniciar o combate, aplicando-lhe golpes de cremes faciais, primeiro os genéricos, depois os especializados. Mais tarde, máscaras e tratamentos dermatológicos de todos os preços e micos.

O creme facial, garantem alguns usuários, é algo capaz de resolver os problemas mais intrincados. Mas a forma de aplicação é fundamental. Não pode ser passado como quem reboca uma parede. Não, há que ter calma, reflexão, um mínimo de carinho e cuidado. O creme deve ser espalhado com calma, identificando-se cada uma das pequenas rugas, cada um dos sulcos, cada uma das grandes rugas.

Enquanto o usuário vai passando o creme, ele vai também refletindo sobre a vida que teve, seus acertos, seus erros e vai identificando os motivos de cada um dos sulcos que pensa disfarçar. Cada uma delas tem sua história. Aquele ali foi quando Joana bateu o carro e descobriu que não pagara o seguro. Aquela outra foi quando Rodriguinho rodou na escola e disse que queria morar sozinho com uma senhora de quarenta e cinco anos. Estava bem a senhora, mas não parecia muito adequado. Cada uma tem seu motivo. Aquele ali foi por causa da Janete que nunca quis me dar uma chance, reflete consigo João Carlos. Aquele outro mais profundo foi por causa de uma venda que foi cancelada e com ela a meta anual e o bónus se esfarelaram.

Marcelo é destes que passam o creme como quem faz um balanço da própria vida. Aquela ali mais perto do olho foi por causa de Nara que jamais lhe deu a chance de se declarar. Nara se foi para a Europa, casada com um auxiliar de toureiro e Marcelo ficou aqui, com o sulco no rosto e a conta dos cremes que usa. Mas o pior não é o sulco causado por Nara. Nem as promoções que não chegaram, O pior foi Clara. Namorou Clara por cinco anos, no tempo em que namorar era só pegar na mão. Bem, quase isto. Depois noivou por mais três, comprou geladeira, fogão e liquidificador. Não deixou nada para ganhar de presente no casamento. Dois meses antes do casamento, Clara fugiu com um cigano húngaro que lia as mãos e engolia espadas em um circo.

Por falar em cremes, há que reconhecer que a existência de cremes verdadeiramente milagrosos. Alguns deles nem é preciso passar. Só de olhar a embalagem, fina, sofisticada, austera, bem desenhada, e já se começa a rejuvenescer. Tem um azul, indicado para os olhos que, só de olhar o pote, o vivente já se sente todo puxado, como se a pele tivesse sido toda esticada. Em seguida, desaparecem os efeitos da idade. Há outros que produzem seus efeitos antes mesmo da conferência da conta do cartão de crédito. As rugas desaparecem como que por encanto. É o mistério da tecnologia e da imaginação. Mais da última.

As rugas em geral e os pés de galinha em particular, têm um profundo respeito pelo esforço das pessoas. Se a criatura está toda enrugadinha, mas acredita na melhora, pensa positivamente, compra este ou aquele creme, é claro que o creme vai se empenhar na solução do problema e, todos sabem, querer é poder.

Nem que seja por uma noite.


Escrito em 30.11.2002
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