Depois de varada “a noite
Escura do amanhecer”,
Surge a barra no nascente
Banhada no alvorecer
De raios em sanguíneo sol
Anunciando o arrebol
Que logo, ao lado, se vê.
Esse processo desperta
Dos sonhos a natureza,
No céu as nuvens ensaiam
A dança da realeza...
Na terra o galo anuncia
A vinda de um novo dia
De esperança e beleza.
De longe a brisa balança
As galhas dos juremais,
Das aroeiras, angicos,
As palmas dos coqueirais
Fazendo que a passarada
Renasça com a madrugada
Pelos seus tons divinais.
Vibra o galo-de-campina
Num canto extraordinário,
Também o gola, o graúna,
A patativa, o canário,
E, engrandecendo o amor,
No ar baila o beija-flor
Nas flores do santuário.
Já se ouve lá do gado
O mugido do curral,
A zoada da porteira
Ao mover-se cada pau,
O aboio do vaqueiro
Conduzindo ao tabuleiro
Pra pastagem natural.
Em casa os agricultores
Amolam a foice, a enxada,
Pegam chapéu, a cabaça,
A peixeira embainhada
E vão dispostos, sem troça,
Em busca da sua roça
Pra fazer a capinada.
A mulher trabalhadora
Cumpridora do dever
Acende o fogo de lenha
Põe a água pra ferver,
E não fugindo da raia
Antes que o marido saia
Já fez café e comer
Já outros ouvem o apito
Do engenho de rapadura
Convocando cambiteiros
Para estocar à altura
Durante toda semana
As suas cargas de cana
E produzir com fartura.
Os domingos, de costume,
São dias de oração,
É quando os agricultores
Ainda na escuridão
Se preparam de mansinho
Pra retomar o caminho
Da sua “libertação”.
Como é belo o amanhecer
Do dia em qualquer rincão
Onde a mais pura poesia,
Bem tocada ao coração,
Comprova de forma clara
Que nada, além, se compara
Com as manhãs do sertão.
|