A MINHA CRUZ
Antonio Luiz Macêdo
Senhor, desce da Cruz, da minha cruz.
Sim, porque a Cruz que abraçaste
e da qual tu pendes não é tua.
Ela foi projetada no jardim do Éden
(que ironia!),
quando os meus ouvidos se abriram
à voz da ajuda adequada que me deste,
e eu acreditei.
Árvore do meio do jardim
que deitando raízes rumo ao rio
fortalecia-se e revigorava caule e folhas,
sem nunca deixar de produzir frutos, e
cuja beleza não se traduzia por palavras,
mas pelo silêncio contemplativo
do coração encharcado pela Graça;
agora, despojada das vestes,
não passava de dois galhos secos,
sem vida.
Fui eu que a despojei, fui eu que a desfolhei.
Desce da minha cruz!
Ela foi transportada
do paraíso até o monte Calvário
pelo meu pecado e pelas minhas transgressões.
Nutrida pelo orgulho e pela desobediência,
seu peso tornou-se insuportável, insustentável.
(Ah! Simão de Cirene...).
Desce da minha cruz, Senhor!
Desce da minha cruz.
E teus olhos se fixam nos meus,
e meu coração acolhe a tua voz:
Pai, perdoa-lhe!... E continuas:
Filho, a tua cruz é tua, mas eu a assumi.
Foi para isto que eu vim ao mundo.
Desci do Pai e me fiz um como tu,
sujeito ao que tu és sujeito,
humanamente limitado
- apesar de Deus -
para reconciliar a Criação e redimí-la.
Sem a Cruz não há Redenção.
A tua-minha Cruz é o preço do resgate
que não tem preço,
pois meu sangue é o sangue do Amor
sem medida e sem limites
que derramei por ti e pelo mundo inteiro.
Deixa-me ficar na Cruz,
vale a pena morrer de Amor!
São apenas três horas, nada mais.
Depois... Depois mais dois dias
e o mundo verá, e tu hás de entender
que não existe Páscoa sem dor.
E somente assim
não haverá mais luto, nem pranto.
Eu enxugarei todas as lágrimas
e serei tudo em todos.
Só então te direi:
agora, toma a tua cruz
e segue-me.
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