RAZÕES PELAS QUAIS NÃO VOTO EM LULA
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Tenho, inegavelmente, a maior admiração pelo pernambucano que migrou para São Paulo em busca de trabalho e de uma vida mais digna. E trabalhou duro, durante muitos anos, e logo percebeu que havia necessidade de fazer algo mais. Ingressou no movimento sindical, participou de várias lutas em defesa de seus pares, consolidou uma liderança inata, e fundou o Partido dos Trabalhadores, inaugurando uma nova corrente de pensamento político de oposição.
Mas o tempo foi passando, e o Lula se desgastando. Na primeira eleição para presidente, de que participou como candidato, havia uma grande expectativa e uma sólida esperança no ar. Na segunda eleição, de que também fora candidato, a expectativa e a esperança ainda se faziam presentes, de forma mais amena, porém num clima que poderíamos classificar como de revanche, por conta da esperança que ainda pulsava no coração de cada brasileiro.
E mais outra eleição. E mais uma derrota. E mais outra eleição. E outra derrota. E o Lula não chegou lá. E, confesso, fiquei com medo de ser feliz..
Na verdade, a história política do Lula registra uma bela página de exemplo de dedicação, de luta e de bons propósitos. Mas, não se edita um livro escrevendo apenas uma página. Somos responsáveis pelo que cativamos. E, desse modo, quem lidera deve estar sempre abrindo novos caminhos. Mostrando novas oportunidades. Essa, ao meu ver, a primeira falha do Lula. Parou no tempo. Deixou de produzir bons exemplos.
Fico a me perguntar o que teria feito o Lula nestes dezesseis anos de pausa entre uma candidatura e outra. Que espécie de projeto político poderia almejar uma pessoa que, tal como o Enéas, parece confiar, tão-somente, na fama do primeiro dia ? É mais ou menos como aquele cantor que estoura na praça com uma bela canção, mas, logo em seguida, deixa as paradas e cai no anonimato. Por falta de renovação. A bem da verdade, ninguém agüenta ouvir uma mesma música por muito tempo.
E o Lula ficou vendo a banda passar. Nunca se dispôs a competir por um cargo eletivo no âmbito do Poder Executivo, estadual ou municipal. Abriu mão de mostrar a sua capacidade de administrador. Poderia ter ocupado o governo estadual ou a prefeitura de São Paulo, por exemplo. Talvez daí, surgisse o degrau que lhe daria acesso à presidência da República, com maior embasamento. Mas isso não aconteceu. E a pergunta fica no ar. Por que o Lula não se preocupou em aprimorar seus conhecimentos ? A ajudar sua inteligência. Não que o curso universitário, necessariamente, seja importante e fundamental para o exercício de qualquer mandato. Mas que ajuda um bocado, lá isso ajuda. Principalmente quando a pessoa é honesta e bem intencionada como o Lula.
Lula parou no tempo. Sem se dar conta que o tempo voa. Ainda mais em se considerando a dinâmica de nossos tempos. Em que não mais subsistem as questões meramente de ordem interna. Tudo tem a ver, mais do que nunca, queiramos ou não, com o exterior. A visão tem que ser de mundo. E o Lula é muito caseiro.
É justo portanto, que se coloque as barbas de molho. E agora, passados dezesseis anos, a história não promete ser muito diferente. Até porque, o Partido dos Trabalhadores já tem quadros, ao meu ver, em condições bem melhores para disputar à Presidência. Cito apenas um nome: O professor Cristovam Buarque. Ex-Reitor da Universidade de Brasília, ex-governador do Distrito Federal, onde realizou um excelente governo. Pessoa que possui grandes idéias, a maioria das quais insertas na área educacional, onde tem programas reconhecidos no mundo inteiro. Possui vários livros publicados, como obras que refletem o seu pensamento a respeito deste e de outros temas. Nacionais e internacionais.
Finalmente, não gosto de “roupa de marca”. É mais cara e não necessariamente de qualidade. Ademais, tem a questão das coligações. Muito estranhei a obsessão do Lula de chegar à Presidência de qualquer jeito, a ponto de fazer união tão esdrúxula com o PL. Logo com o PL, aquele pessoal que o chamava de Satanás?
Não voto em Lula. Mesmo que ele fosse o único candidato. Posto que, se assim o fosse, votaria, para manter a coerência e a lógica, em Duda Mendonça, o autor do clone do antigo Lula. Às mamães dos petistas que me perdoem. Mas é um direito meu escolher em quem votar.
Domingos Oliveira Medeiros
12 de maio de 2002
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