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Poesias-->Flor do Meu Poema -- 11/10/2003 - 04:46 (Jefferson Cassiano) |
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Todos cantam flores.
De plástico. De vidro. De carne e osso.
Cantam pétalas. Cantam folhas.
Até espinhos que espetam.
Tantas flores, mistura de odores,
Tantos arranjos geométricos,
Tantos jardins sem abelhas,
Tantos bosques sem poeira.
Flores de cantadas são cansadas.
Para não dizer, dizem com flores.
Discursos ramalhetados em rimas barrocas.
Mesmo sem as ver, só miram flores
Em frases carentes de sequer semente.
Se estão sós, só falam às flores
Com esperanças escritas e jamais lidas.
Mais fácil falar de pedras e paus.
E de um caminho em seu fim.
Lírios em campos devastados.
Rosas caladas em cartolas.
Flores nos vasos de Jobim.
Flores de cantadas são cansadas.
Mal acostumados a enxurradas,
Planetas botânicos pedem regas
De palavras que escorregam
E atravessam as mãos e a mente,
Como água que se nega
A molhar idéias-flores
Que, se não nascem,
Secam? Morrem? Fossilizam?
Gotejo monossílabos.
Só.
Aspirjo interjeições.
Ó.
Escorro substantivos.
Nó.
Dó.
Pó.
A flor do meu poema não nasce.
A flor do meu poema não existe.
A flor do meu poema não tem motivo.
Flores de cantadas são cansadas,
Pois todos já cantam flores.
Flores para todos os cantos.
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