A despeito dos modernos meios de comunicação, as placas usadas nos estabelecimentos comerciais ainda são muito usadas. Não me refiro aos letreiros, mas à s placas mais singelas, não raro escritas à mão, com giz. Estas que dizem, Aberto, Fechado, Já volto, Ocupado. De certo que tais placas não resistem à análise de consultores engravatados, tampouco têm perfeita aderência à s versões mais novas das normas internacionais. Claro que a maioria destas placas não está de acordo com as modernas técnicas de CRM.
Mas não há como negar, algumas cumprem seu papel. Se de um lado carecem de ciência e modernismo, há que reconhecer-lhes a humanidade e, em alguns casos, a objetividade.
Fechado - Aberto - Ocupado - Reservado - Não fumantes.
Bem, nem todas são objetivas como as placas acima. Há as dúbias. "Já volto" é uma delas. Se a placa apresenta alguma não conformidade com a ISO10001.03/4, nem por isso pode ser de todo condenada. Convenhamos, já é um avanço. A placa denota um certo compromisso com o cliente ou visitante. Não estivesse ali a placa e a dúvida seria total. Assim posta a placa, dá uma esperança ao visitante, uma indicação de que pode valer a pena esperar. Sem ela, o que pensar?
Tais placas, menos objetivas, não devem ser levadas muito a sério. Antes de afirmações, são indicações, intenções, nada que não possa ser mudado. Implícito está que o autor foi ali e volta quando quiser. Se é que volta hoje. Mas placas simplesmente indicam, não polemizam, nem contra-argumentam. Volto logo, ela diz. Se você quiser esperar espere, se não, não espere. Assim, sem paixão nem ofensa. Já volto. Os mais formais usariam um Volto logo, mas o resultado é o mesmo. Há quem se choque e não queira esperar. Mas exigem demais da pobre placa e seu autor. A própria existência da placa já é de per si um indicador de respeito pelo cliente. Já volto, diz a placa, indica que há ao menos a intenção de voltar. Não chega a ser uma promessa solene, apenas uma intenção.
Já volto, devia explicar melhor. Fui até ali fazer xixi e isto não costuma demorar, já seria um avanço, embora pouco interesse ao público a demora do vivente a se aliviar.
Se bem que há quem goste de explicações muito compridas. Algo como
"Já volto, fui até ali fazer xixi e isto não costuma demorar, a menos que tenha uma fila muito grande e aí, você sabe, as filas sempre demoram. Ainda mais lá que só tem uma vaga, por assim dizer. De qualquer forma, espere um pouco e, caso demore mais de cinco minutos, desista pois significa que fui tomar café. Café, você sabe, sempre demora um pouco mais, e se encontrar o fulano então, é conversa que não acaba mais, pois, você sabe, o fulano fala demais e conta histórias muito compridas e, história comprida, você sabe, puxa história comprida e aí, demora"
Os mais formais e politicamente corretos talvez preferissem:
"Prezado visitante.
Aprecio muito sua visita e peço-lhe desculpas pela ausência. Ocorre que foi necessário, imprescindível mesmo, ausentar-me por alguns instantes. Sendo assim rogo sua paciência em esperar um pouco.
No entanto, caso a demora se estenda por mais de dez minutos, peço que aceite minhas reiteradas desculpas e desista. Demoras superiores a tal prazo indicam que não será possível retornar tão rapidamente como supunha ao colocar a presente placa.
Atenciosamente".
Em outras palavras: volto logo, eu acho.
Escrito em 26.02.2002 |
