As bênçãos do bom Jesus
Estão todas reservadas
A quem segue para a luz
Com as penas suportadas.
Não temos tido paciência
Com as quadras manquitolas.
Deixamos sua ciência
[Tirar rimas das cartolas.]
Não fazemos de propósito
Tornar as rimas difíceis.;
[Delas tem um bom depósito
Como se fosse de mísseis.]
Eis aí bom amiguinho
Um exercício feliz:
Para conseguir rimar,
Tem de meter o nariz.
A quadra que compusemos
Não teve o fim que se quis,
Porquanto o nosso escrevente
Intrometeu seu nariz.
Estamos indo na estrada
Em que se completa o verso.;
Isto é bem pouco, é um nada
P ra quem pretende o universo.
Querido amigo escrevente,
Coloque amor no trabalho.;
Do contrário, fica a gente
Carta fora do baralho.
Sentimos muito, escrevente,
Deixar a tarde vazia,
Mas a verdade imanente
É que é apenas mais um dia.
É bom esbanjar amor,
Compreensão e alegria,
Até mesmo quando temos
Só uma tarde vazia.
Bate o coração no peito,
Mui saltitante e feliz.;
É sinal que desse jeito
Escapamos por um triz...
Talvez a rima não seja
A mais rica e natural,
Mas a sorte benfazeja
Livrou a quadra do mal.
Por isso vamos dizendo
Que tudo aí se encaminha,
De forma definitiva,
P ra esta última linha.
Eis que estamos revelando,
Em nossa linha final,
Que é bem ali que se encontra
O resumo da moral.
Vamos perdendo este medo
Que nos põe paralisado,
Mas talvez seja inda cedo
P ra algo mais adiantado.
Vamos ver se conseguimos
Dar ao verso algum sentido,
Procurando um belo tema
Para ser desenvolvido.
Falaremos sobre o quê?
Situaremos aonde?
Conhecemos o porquê?
E como é quem se esconde?
Deixemos de lero-lero,
Voltemos às minhas rimas.;
É claríssimo que quero
Mudar de ares e de climas.
Cerca-nos grande mistério
Ao derredor desta vida,
E, depois do cemitério,
Da sorte o povo duvida.
P ra nós aqui deste lado
A vida está resolvida.;
O que é mais atrapalhado
É quando foi mal vivida.
Não lhe parece mui fácil
O mote que acima disse?
É a morte um embaraço
[P ra quem só creu no que visse.]
Agiu muito bem o irmão
Ao deixar para depois
Do refrão a solução:
É melhor para nós dois.
São muito poucos os versos
Que têm sentido eternal:
São quase todos perversos,
Sem conteúdo moral.
Mas vamos levando a vida,
Com muito amor e alegria,
Já que seremos capazes
De respeito e harmonia.
Eis que um pouco de poesia
Não fará mal a ninguém
Que trabalha todo o dia
P ra ganhar o seu vintém.
É de praxe, ao terminarmos,
Agradecer ao Senhor,
Pedindo-lhe que abençoe
A todos com grande amor.
Oremos, pois, comovidos,
De Jesus a linda prece,
Prometendo, resolvidos,
Ajudar a quem merece,
Mas dando também ouvidos
A quem de apoio carece
Sem serem apercebidos
De que a carne ensoberbece.
Somos gratos ao irmão
Que sua pena oferece.;
Deixamos-lhe o coração,
Nesta derradeira prece.
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