O fio da navalha.
Mãos erguidas no ar.
Espalmadas,
Prontas para desfechar o tapa.
Palavras inaudíveis,
Ofensivas, irracionais.
Acusações.
O sangue fervilha,
Pensamentos descoordenados,
Raiva, ódio, insensatez.
Instantes tão finos.
A distância entre o amor e o ódio
é o que separa este momento.
Razão ou loucura, paixão ou tormento.
Um infinito segundo no tempo.
Uma decisão.
E o tudo será nada,
Mais nada, absolutamente nada.
A mão agressiva desce em direção ao rosto
Vacilante, trêmula toca a pele.
A face molhada espera a pancada.
Ainda vacilante a mão pára,
o toque é suave.
Repentinamente o nada se desfaz.
A decisão está tomada.
A perda já não é irreparável.
Lágrimas mútuas de compreensão,
De compaixão e paixão.
Outras mãos se erguem, se buscam.
Se tocam, se afagam.
Do toque das mãos, os lábios.
Um beijo, uma carícia.
As mãos se tornam busca.
Os corpos se tornam meios.
Frenéticos meios.
Roupas se rasgam, se desmancham.
Carnes se espremem, se esfregam.
Lábios, braços, bocas, línguas.
Sôfregos, esfomeados, afogueados.
O cheiro arde no ar.
O desejo consome o olhar.
O suor lava o enlace, o lençol, o momento.
A respiração ofegante surda aos dois, é ouvida distante
Marcas de unhas,
Gemidos inaudíveis,
Movimentos lascivos,
Carnes que se misturam,
Línguas que se misturam,
Palavras que se misturam.
Um grito mútuo, sufocado, crescido, multiplicado.
Dois corpos jogados.
Dois corpos cansados.
Dois momentos passados.
Mais uma vez fomos dois.
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