Antigamente dizia-se haver pessoas que passavam qualquer coisa para eliminar a calva. A careca, bem entendido. O chiste mais comum era sobre os efeitos medicinais da titica de galinha. É, é isto mesmo, dizia-se que titica de galinha aplicada à calva operava milagres. Bem, este expediente era tão difundido que imagino tivesse algum fundo de verdade. A velha sabedoria popular.
Houve mesmo uma época em que se ouviu falar de um mercado negro de um tipo muito especial de titica de galinha. Era a titica branca de galinha preta, colhida antes das seis da manhã. Não podia ser depois por causa dos efeitos da luz solar direta. Os raios solares eliminavam algum tipo de micro-bactéria e com ela, os poderosos e tão desejados efeitos. A alimentação das galinhas também devia ser controlada, restringindo-se à folhas tenras de alface americano. As cotações oscilavam muito, por ser a oferta e a qualidade incertas. Felizmente, na época eu ainda não padecia deste mal. Comentava-se que os efeitos eram imediatos e irreversíveis. Pena, pois diziam também que o maior efeito se dava justamente nas calvas do tipo tonsura, a pior delas. A mais detestável das formas de calvície.
Eu acho que ainda é verdade, o problema é que já não se encontra. É a velha questão do dinheiro fácil. Apareceram falsificações de todo o tipo que, naturalmente, não produziram os efeitos apregoados e, desacreditada, a titica branca de galinha preta colhida antes das seis da manhã, caiu em desuso. O governo, como sempre, nada fez para eliminar este problema e o resultado aí está: carecas para todo o lado, sem falar nas perucas mal enjambradas, piores que as carecas que pensam disfarçar. Perderam a ciência, a economia e os calvos em geral.
Uma tristeza.
Muita gente já usou e insiste em tentar os expedientes mais diversos, muitos inconfessáveis. Curiosamente, o único remédio que pareceu dar resultado, foi difamado. Rapidamente surgiram comentários sobre efeitos colaterais absolutamente indesejáveis. Pelo sim, pelo não, foi rapidamente abandonado. Nunca se soube se os boatos tinham algum fundamento. Ninguém se arriscava a experimentar. Na época já não havia comunistas para espalhar tais boatos, de modo que acho isto devia ser coisa de americanos. Talvez os canadenses, antecipando a guerra pelo mercado aeronáutico. Nunca se sabe. Há quem diga que foi coisa do PT, mas hoje em dia não convém sequer pensar numa coisa destas. Se bem que tem pouco petisca careca. A maioria é cabeluda. Será que foram eles que espalharam o boato para ter o benefício de forma exclusiva? Não acredito.
Hoje passa-se de tudo, em todo o lugar. Embora já não se tenha tanto pavor do mico, as providências continuam inúteis. Calvo uma vez, calvo sempre. Claro há as perucas e os implantes, mas tais expedientes não disfarçam o óbvio.
Se não há forma aceitável de eliminar a calva, talvez devesse haver algum investimento nos espelhos. Espelhos eletrónicos no qual a pessoa ao olhar-se, veja uma cabeleira não só vasta como bem arranjada, penteado da moda, gel, talvez uma franja rebelde. Em fim, alguma forma sob a qual o calvo goste de se imaginar. Antes de sair de casa o calvo se olha no tal espelho e se vê como gostaria de ser visto pelo os outros.
Achando que todos o vêem daquela forma, o vivente sai de casa feliz e passa o dia em paz.
Escrito em 30.11.2002 |
