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Contos-->O Estrondo -- 26/04/2003 - 18:24 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não Matarás o Próximo
(Domingos Oliveira Mnedeiros)


De repente o estrondo. Milhões e milhões de espermatozóides. Na mesma direção. A luta pela sobrevivência. No percurso, emparelhados, dois deles iniciaram uma conversa. Não sabemos para onde vamos, mas, por intuição, sabemos que estamos indo. E se estamos indo, haverá de ter algum objetivo. Também penso assim, disse o segundo espermatozóide. Não sei o porquê, mas tenho a impressão de que já conhecia este percurso. Como assim? Não sei exatamente, mas tenho uma viagem dessas na lembrança.

Começou do mesmo jeito. Milhares e milhares iguais a nós. Mas depois fiquei sabendo, e confesso fiquei um pouco preocupado. Como assim? É que.talvez nenhum, ou no máximo um ou dois, e muito pouco provável de três a cinco de nós conseguirão chegar até ao final desta jornada. Até agora não entendi a causa de tanto desperdício. Muito candidato e poucas vagas. E os milhares e milhares de companheiros que não conseguirem chegar lá, simplesmente não existirão nunca mais. Não serão nada. Mas já não eram nada, disse o amigo. Eram, sim. Eles ao menos tinham a esperança de ser alguma coisa. E a esperança é assim mesmo. Embora não possamos vê-la ou pegá-la, temos que acreditar nela. É por isso que ela se chama esperança.

Mas, como eu ia dizendo, na vez passada eu consegui vencer esta corrida. Graças à Deus, conforme ouvi minha mãe dizer no momento em que nasci. Deus? Sim, é um ser divino, que criou o mundo e todas as coisas que nele existem e, ainda, é muito misericordioso.

Graças a Ele cheguei ao final da corrida. E passei para o interior de minha mãe. Era um lugar bastante agradável. Bom astral e boa temperatura. Ali, com o tempo, fui adquirindo novas formas. Até que me transformei num feto. Um feto? Sim, exatamente, um feto. Dizem que é um organismo humano em desenvolvimento, no período entre a nona semana de gestação e o nascimento propriamente dito. Nona semana? O que é isso? Semana, dia, meses, horas, são coisas com que vamos lidar quando sairmos daqui. Quando nascermos. É o que os humanos, em que vamos nos transformar, chamam de tempo. Interessante!

Mas, como eu ia dizendo, o tempo foi passando e eu me transformei num bebê. É o início da forma mais parecida com os seres humanos. Ainda dentro do útero da minha mãe biológica. Puxa! Você usa cada termo desconhecido! Com o tempo você irá aprender muita coisa!

Mas para resumir a conversa, na minha lembrança, eu nasci, isto é, saí de dentro da barriga de minha mãe e conheci um mundo novo. Cheio de luzes que me incomodavam bastante. Muita gente em volta, vestido de branco. Fazia frio. Bateram em mim com as mãos e eu comecei a chorar. E eles começaram a sorrir. Não estava entendendo mais nada. E mal sabia que dali para a frente tudo seria mais ou menos assim: muita coisa que os homens faziam eu não conseguia entender. Você também, se conseguir chegar lá, vai passar por essa mesma experiência. Mas não se preocupe. Tenha fé, que é uma forma superior de esperança, e tudo se resolverá.

A conversa acabou em cima da hora. O primeiro espermatozóide ganhou a corrida. E seu amigo transformou-se em nada. E o primeiro espermatozóide começava a sua rotina de milhões e milhões de anos. Sem entender nada. E mal sabia que durante muito tempo, continuaria sem entender muita coisa. E viu que a vida cá na terra não era lá estas coisas.

Primeiro, ficou sabendo, ainda dentro do útero, que sua mãe não tinha planejado seu nascimento. Fora vítima de um estupro. E teve a sua primeira decepção: seu pai não se importava nem um pouco com ele. Na verdade, nem queria saber se ele iria ou não nascer.

Mas e sua mãe? Em princípio, e apesar dos traumas causados pela violência, estava em dúvida a respeito do nascimento. E a cada conselho que ouvia sua mãe receber de amigas, advogados, médicos, enfim, a criatura embrionária temia por sua vida. E resolveu lutar por ela.

Começou a transmitir mensagens diretamente para o cérebro de sua mãe. Mãe, eu sei que a senhora não planejava minha chegada. Ainda mais nessas condições de tanta violência. Quanto ao papai eu já o perdoei. Não se preocupe. E quanto à senhora, seria muito bom que me recebesse como seu filho, que de fato sou. Não tenho nada a ver com o estupro. Mas tenho um coração que bate pela senhora. Eu já a amo desde o primeiro dia que fui acolhido pelo seu útero. Estou com muitas esperanças de nascer e ser um homem bom. Eu sei que já existe legislação que lhe dá o direito a optar pelo aborto. É a tal da gravidez indesejada.

Mas, como sempre, eles continuam fazendo leis sem consultar a todos os interessados. Não foram leais conosco. E não adianta dizer que nós não fizemos pressão. O mundo científico cansou de alertar para o fato de que nós já tínhamos uma vida. E que temos nossos direitos.
Não adiantou nada. Aprovaram a lei.

Mas, mãe. Se a senhora não puder, por qualquer motivo, acolher o seu filho, deixe ao menos ele nascer. E que o adote. Pra mim o que interessa é viver. Tenho que seguir os ditames da natureza. Tenho uma missão a cumprir.

Mas, o tempo foi passando. E o menino nasceu. Já homem feito, procurou passar sua experiência para todos os seres humanos. Deu-lhes bons conselhos. Mostrou o lado bom e ruim das coisas. Mas, sobretudo, ensinou a amar a Deus sobre todas as coisas. Seu nome? JESUS. Era a segunda vez que tentava nos salvar.

Domingos Oliveira Medeiros
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