UM CORDEL MAL ACABADO
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Um governo enrolado. Um cidadão aborrecido. Um eleitor traído. Um poeta indignado. Um titular convencido. Um contador de história. O homem perdeu a memória. Abandonou sua luta. E quase que eu disse agora. Aquela sua labuta. Virou apenas bravata. Mudou de opinião. Do vinho para o vinagre. Retirou o macacão. Agora usa gravata. E anda de avião. Avião particular. Já conhece o mundo inteiro. Arrumou novos amigos. Distribuiu o dinheiro. Dinheiro do pagamento. De imposto, do orçamento. Tirou da boca do povo. Pobre povo brasileiro. Que é isso, presidente? Que é isso, companheiro?
É medida provisória. Ou esforço concentrado. É emprego temporário. Nenhum programa dá certo. Nenhum projeto é votado. Nada urgente ou relevante. Segue, o governo, adiante. No clima da primavera. Vendo tudo colorido. Volta ao tempo do Fernando. Daquele e daquele outro. ACM dando as cartas. Sarney também vai jogando. Todo mundo dá palpite. E o juro aumentando. E o vice reclamando. E o Zé Dirceu já falou. Já falou e também disse. Cuspiu cobra e lagarto. Sobre a nossa economia. Que por ele, anda mal. No rumo da fantasia.
Canta o povo sofrido. Esperando o resultado. O futuro almejado. Tantas vezes adiado. Tantas vezes prometido. A todo e qualquer instante. Na fala do presidente. No futuro do presente. No particípio passado. Nunca ele está presente. Muda sempre de endereço. Cada dia mais pra frente. Espera o povo contente. Na visão do presidente.
Não importa mais o dia. Sempre há um feriado. No meio da brincadeira. Mais um dia enforcado. Na sala, a televisão. A notícia do jornal. O programa do Faustão. O churrasco e a faxina. O arroz e o feijão. A conversa na esquina. Em torno da eleição. Se o pleito fosse hoje. Eis a grande questão. Em quem você votaria? Pesquisa de opinião. Registrada em cartório. Não é brincadeira não. Aponta o vencedor. Mostra sua posição. A barbada escolhida. Com margem de segurança. Reforçada a confiança. Quem vai apostar primeiro? Vive o povo de ilusão. Vive o povo brasileiro.
Na fila da estação. Esperando pelo trem. Que chega atrasado ou não vem. Sentado no bagageiro. Sem trabalho e sem dinheiro. Pensando no resultado. De mais um comissão. CPI do BANESTADO. CPI do Waldomiro. Do morcego de plantão. O processo anda parado. Talvez até arquivado. A lista é muito grande. Tem juiz e deputado. Banqueiro e doleiro. E cargo comissionado. Mas a festa continua. Eleição Municipal. Nada de muito apressado. Tudo é negociado. O inimigo é amigo. Do peito e do coração. O Brasil acima de tudo. Só por força de expressão.
Isso irrita o eleitorado. Embora acostumado. Não acha que seja normal. É pura imoralidade. Falta de personalidade. E, no fundo, pega mal. Mas o assunto em comento. Muda o tom da rebeldia. Milagre do crescimento. Que há muito não se via. Crescimento sustentado. Por uma dívida crescente. Em progressão geométrica. Ofende a moral e a ética. O povo que se arrebente. O país endividado. E o presidente otimista. Buscando a celebridade. A sua credibilidade. Junto ao mundo inteiro. Ao mercado financeiro. Somos bons pagadores. Junto aos nossos credores. Sempre temos mais dinheiro.
Vai assim o bate-papo. Quem será o campeão? O assunto é seleção. Da camisa amarela. E do hino brasileiro. Que amarela de montão. Joga mal em amistoso. Mas é pentacampeão. No rádio a mesma notícia. Todo mundo ansioso. Esperando o resultado. Daquela reunião. Com medo do bicho papão. Com medo e muito cuidado. Sai da boca do dragão. O calor do inusitado. Aumento da inflação. Sobe a taxa Selic. Notícia da cotação. Pra agradar o patrão. O juro reajustado. E o preço da gasolina. Só depois da eleição. O boi ficará mais brabo. Derrubará o peão.
O Brasil é um celeiro. Orgulho do brasileiro. Nada falta nessas bandas. Nunca fomos tão felizes. Diz o nosso justiceiro. Só não temos liberdade. E emprego o ano inteiro. Não se faz investimento. Apesar do crescimento. Piora a economia. Distribuição de riqueza. Junto à população. Que anda com a barriga. Sem nada dentro, vazia. Sem arroz e sem feijão. Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão!
Presídio superlotado. O crime, agora compensa. O crime dá resultado. É essa a nova crença. O criminoso é protegido. O processo é demorado. Ainda não foi julgado. Nem proferida a sentença. Se transitado em julgado. Pode concorrer à vaga. De vereador ou prefeito. E a coisa fica no jeito. Melhor que a liberdade. Passa a ser vossa excelência. E ganha imunidade. Status de ministro. Foro muito especial. Igual ao do presidente. Do nosso Banco Central. Depois chega a deputado, no Congresso Nacional. Monta a sua bancada, onde tudo é planejado. Junto à toda sua turma. A do crime organizado.
E se também for formado. For bacharel em direito. For um bom advogado. Quem sabe daqui mais pra frente, ele será nomeado, pelo nosso Presidente? Por indicação nominal, para ser o presidente do Supremo Tribunal.Assim caminha a humanidade. No clima da propaganda. Nada além da embalagem. Tudo será provisório. Em nome da politicagem. Miséria pouca é bobagem.
Viva o Duda Mendonça. Viva a publicidade. Viva o amigo da onça. Viva nossa liberdade. Viva o mundo inteiro. Viva o nosso companheiro. Viva toda a nação. O Iraque e a Palestina. E o Afeganistão. Viva o Bush farceiro. Viva o rei da invasão. Vivo é o Bin Laden. Que está fora da prisão.
Morte ao terrorismo. Ao nazismo e ao fascismo. E também ao comunismo. E a toda democracia. Que faz o povo de bobo. A criancinha e o lobo. Pra que serve essa boquinha? Falta comida no globo. A fome não se contenta. A fome não se alimenta. De palavras e discursos. A gente não quer só comida. A paz é o belo da vida. Sou pelo desarmamento. De ânimos e de canhões. Sou pela ecologia. Entre o céu e a terra.
Sou amor e poesia. Sou pela reconstrução. Pela civilização. Cultura e educação. Reconstruir nosso mundo. Sou pela fraternidade. Exercício da caridade. Respeito à diversidade. À liberdade de expressão. Cultura e religião. Às leis e a soberania. Dos povos, da comunidade. Quem sabe, talvez, algum dia. Faça-se a luz da utopia.