A atividade de estátua de rua vem evoluindo muito nos últimos anos. Jane procura acompanhar tudo o que acontece no mundo. Ela assina mais de dez revistas especializadas, sendo uma em romeno, uma em chinês e outra em sànscrito. Esta última ela não entende muito bem, mas fica olhando as figuras e tentando imitar as poses. Ela diz que dá uma grande energia. Deve dar.
Antigamente o importante era ficar imóvel, como as estátuas. Depois a grande novidade foi a mudança brusca de posição. Devia ser feita tão rapidamente a ponto da platéia não notar o movimento e ficar em dúvida se realmente houve mudança. O problema maior nesta época era disfarçar o sorriso ao olhar para a platéia em dúvida. Esta técnica foi usada muitas vezes em vitrines com modelos nuas. Juntava muita gente para olhar as poses e surpreender as modelos em movimento. Mas isto deu muita confusão e a técnica caiu em desuso.
Atualmente, uma estátua de rua em dia com seu tempo deve fazer uma coreografia alterando sua posição de forma muito, muitíssimo, lenta. Ou seja, o artista inicia com uma pose que vai sendo lentamente modificada até voltar à pose original. Um ciclo de cinco horas é considerado bom, mas há quem faça ciclos de dezoito horas, dez minutos e trinta segundos.
Não adianta, não há como conter a evolução. Com as estátuas de rua não poderia ser diferente.
Jane está atenta a tudo e já vem bolando novas poses. Na realidade são mais que poses, são coreografias, algo a que poder-se-ia chamar de dança hipo-cinética, ou algo neste sentido, se me entendem. É algo como um hiper-realismo do movimento. Sabem?
Jane não está parada, não quer fazer feio quando chegar à Europa. Chegou a fazer contato com Joãozinho Trinta para que ele pensasse em novas poses, mas ele está muito ocupado com o próximo carnaval. De qualquer forma ele sugeriu que na placa explicativa ela escreva algo como "dedico esta pose ao sofrido povo brasileiro". Ele é ótimo.
Jane não desanimou e fez sua própria criação. Assim está ensaiando um nova pose-coreografia, chamada "O movimento do vencedor após a conquista do título tão esperado", em alusão ao nosso título na última copa. A pose é simples. Ela imita o Cafu levantando a taça, dizendo "Herbert eu te amo". Só que não diz, estátua não fala. Ela movimenta os lábios como se falasse mas não emite nenhum som. Antes mesmo de receber o figurino que encomendou a um estilista famoso, já iniciou os ensaios. Já consegue fazer o ciclo completo em três horas e meia. Considerando que está ensaiando há apenas uma semana, está ótimo.
