Usina de Letras
Usina de Letras
61 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62201 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10353)

Erótico (13567)

Frases (50601)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4762)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Doce como mel -- 26/12/2002 - 17:03 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ninguém entende por que Alice não conseguia ficar casada. Ou, por outra, por que casava tanto. Alice é tão doce. Doce como mel. Estava no décimo marido, todos médicos. A vida dela mais parecia um "check up", já passara por todas as especialidades. Atualmente, procura um especialista em medicina ortomolecular. Na idade dela, pode ser a solução. Mas foi tudo uma grande coincidência.

Ela não é boa em cálculos, mas sabe que a duração média de seus casamentos é exatamente três anos, quatro meses e dezoito dias. E fica repetindo sempre que está sem o marido. No último, quando completou três anos, já começou a arrumar a mala. A mala dele, bem entendido, que ela detesta mudança de casa e vive no mesmo apartamento com vista para o lago desde o primeiro casamento. Na realidade, há mais tempo, pois herdara o imóvel dos pais que morreram cedo em um acidente de avião.

Talvez fosse o apartamento. Ela gosta muito dele. O apartamento é ótimo, mas não haveria de ser por interesse nele que tantos médicos se casaram com Alice. Bem, tem o caso do Dr. Carlos, dez anos mais velho que ela, que perdera tudo na separação da terceira mulher. Fazia plantão todo dia por não ter para onde ir. Dormia no pronto socorro, entre um acidentado, dois assaltantes algemados às camas e duas senhoras em trabalho de parto. Quando não estava no seu turno, fingia-se de paciente e ficava dormindo em um dos leitos. Em vez de roncar, ficava suspirando e chorando baixinho. Uma tristeza. Alice o conheceu quando se separou do Medina. Na briga, cortou-se e precisou levar cinco pontos no braço esquerdo. Tão doce, levou-o para casa naquele dia mesmo, assim que soube da história. Casaram-se no mês seguinte.

Ninguém entendia muito bem, mas a cada três anos havia o ritual de consolar Alice, ouvir uma versão condensada dos acontecimentos, desde o primeiro olhar, até o último sapato lançado pela janela. É, Alice é doce como o mel, mas joga sapatos pela janela quando se separa. Os deles, que ela não é de jogar dinheiro fora. Alice é doce como o mel, mas decidida como só ela, mandona também. Nunca se sabe o que pode dar causa a uma separação. Xampus misturados, sabonete com cabelo, álcool. É, Alice é doce como mel, mas às vezes se excede na bebida. Nada grave, não fosse a mania de ficar repetindo os detalhes do casamento anterior.

Talvez os palavrões. É, Alice é doce como mel, mas quando briga fala todo tipo de palavrão. Horrível, não combina com ela, tão fina, tão doce, tão simpática. Ninguém consegue entender como aquela Alicinha, tão meiga, tão simples, consegue falar tanta baixaria. Mas só quando a provocam e ela não se incomoda assim tão facilmente. Só quando mexem em seu bolso. Outro dia na feira, foi uma confusão por causa de três chuchus mal pesados.

De qualquer forma, ninguém arriscava levantar uma hipótese para explicar. Tirando os sapatos que jogava pela janela na despedida dos maridos, é tão doce, tão gentil com todos. E ela só joga os sapatos pela janela após a separação. O problema maior é que mora no décimo andar. Na sexta separação, um dos sapatos acertou uma criança e, naturalmente, o pai foi tirar satisfações. Ela, tão doce, derramou-se em lágrimas e desculpas e em três semanas estavam casados. Não lembro se era pediatra ou dermatologista.

Há três meses, quando completou três anos do casamento com Ricardo, eles deram uma festa. Animada, muito animada, mas a turma antiga já sabia o significado. Ficaram fofocando pelo apartamento e procurando as malas. Não deu outra, já estavam separadas, sob a desculpa de que deveriam ser limpas, pois pretendia fazer uma longa viagem. Indonésia, quem sabe. Curiosamente, ela pretende viajar com as malas de Ricardo.

Ela é tão doce. Doce como o mel.


Escrito em 14.09.2002
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui