Sinto dentro de mim todas as mulheres,
Desde as esquecidas, enjeitadas, submissas.
Sombras vazias, servís, indiferentes...
Aquelas quase inocentes que, desprendidas,
Deixam-se acabar, sem mesmo a ilusão
De conhecer qualquer razão...
Sinto nos meus braços, pedaços, retalhos
De um sacrificado espaço que o coração
Deixou vazio, insepulto, inseguro,
Pulsando mornamente, lânguido,
Ignorante e sofredor...
Nos olhos trago todas as presenças,
As ausências, as saudades,
Uma súplica sentida,
Incompreendida,
Uma lágrima que restou...
E nos lábios fechados
Estão as palavras não faladas,
O sorriso não florescido,
A mudez que a alma suportou...
Porém, no coração lateja o amor!
Aquele tão sonhado, acalentado...
O róseo, primaveril, afagado,
Represado dentro de toda criatura
Que viveu sem ter amor!
Céu e inferno... Por tantos anos guardado
O sentimento assim desperdiçado,
Escondido com temor!
Mas, dentro da mulher sofrida
Há uma pérola engastada e escondida,
Brilhante nácar em ostra enclausurada
Que, um dia, por mão atenta,
Do mar do silêncio será alçada,
Exibida, e refulgirá com tal clarão,
Sufocando a impura visão
Com o brilho intenso de amor e do perdão!...
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