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Cronicas-->Três histórias sobre mulheres -- 26/12/2002 - 16:04 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Três histórias sobre mulheres

1.

Então, porque era quase Ano Novo, resolveu dar-se um presente.

O que seria se de tudo tinha um pouco, se de nada precisava?

Caixinha de prata, tinha.

Pulseira e anel, comprara.

Batom, perfume, mãos de unhas feitas.

Sandálias, tinha. Sapatos, idem.

Vestidos e saias e meias e rendas e calcinhas de seda.

O que dar-se ela própria a ela mesma?

Tinha a mesa e o escritório atolados em livros.

Tinha colares esquisitos que ninguém entendia.

Por isso mesmo todos ficaram surpresos, os sonsos, quando ela deu-se, rindo feito louca, guardadora de seus mistérios, um pentagrama esquisito, comprado num cameló.

Desde então, segura a mão dos outros e lê sortilégios e inquietações.

2.

Pra o Ano Novo, apenas um desejo: amor.

Passeia os olhos compridos neste mundo de mais ninguém.

A casa vazia, o sofá da sala é impecável, a vida é uma bobagem.

Mas fica feliz que só quando vai à feira e o florista sorri pra ela:

- Dona Zizinha, a senhora não muda nunca,hein? Sempre tão jovem e bem cuidada!

Sem compreender que é somente um elogio de quem quer vender uns crisantemos a mais, responde rindo, vesga e velhinha:

- É que eu bebo formol todos os dias, esperando pelo senhor!

Paga as flores, ri dentaduras duplas, e arruma o cabelo pintadinho de quase-azul.

Depois, empunhando crisantemos em meia-dúzia, caminha menina de quinze anos, rebolando as ancas...abanando-se com a pseudo ventarola japonesa que acabou de ganhar na banca das bananas.

3.

Ninguém sabe que o nome dela é Creusa: ela o esconde como quem esconde o bico do peito no velório.

Cantava no coro da igreja católica, mas debandou para uma outra, evangélica, onde tudo "é mais alegre e ninguém tem vergonha de ganhar muito dinheiro".

Faz vigílias, dá o dízimo tirado do salário magro de aposentada, e briga a quase tapas com as amigas que zombam dela , dizendo que o dinheiro é pra o pastor.

Senta-se na primeira fila dos cultos.

E o homenzinho, que recolhe as doações numa bandeja, estica o olho pra ela. Já pediu pra acompanhá-la à casa, mas ela jamais permitiu que ele subisse as escadas. Lá não, diz sibilando, lá fui feliz com meu marido que acabou de morrer.

Perguntada há quanto tempo é viúva, diz que há uns 4 anos.

Mentira. Nunca foi casada, aos 63 anos é ainda virgem. Mas esconde isso como quem esconde um esqueleto no armário. O homenzinho gosta dela, e Nosso Senhor sabe o que faz.

Esther PS Rosado
estherr@iconet.com.br
Esther PS Rosado é professora de Literatura e Redação em curso pré-vestibular.

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