Considerando que hoje é sábado, vale ponderar que, sendo dia de feijoada, convém sair e comer uma feijoada. Se o gosto da inigualável iguaria vem logo à lembrança, infelizmente, a maioria não pode esquecer do peso, do perímetro, da taxa de glicose de glicose. Há ainda quem lembre da pressão. Mas não é possível deixar de comer, mesmo que com intervalo de meses, uma feijoada. Isto tudo dá um remorso, mas não evita o delito. Ninguém é perfeito.
O problema é a consciência - há quem ainda tenha - a nos infernizar.
Cuidado. Se você tem consciência, você deve ter muito cuidado pois elas em geral são ditadoras, radicais, chatas e nos fazem lembrar que existem justamente quando menos se deseja. São implacáveis. Na realidade estas consciências mais radicais tornam-se totalmente independentes de seus donos e abusam deles, invertem os papéis. Algo assim como um rabo abanando o cachorro.
Imagine a cena. Sábado, tempo nublado, temperatura média, mais para um frio moderado que para calor. Parece ideal para a uma feijoada. Você sai, arranja mesa no restaurante de sempre. Observa o pessoal todo ali aproveitando a feijoada.
Aí, sua consciência começa a falar.
- Não, hoje não, faz só uma semana que você comeu aquela lasanha. Espera um pouco mais. À noite você vai naquela festa e vai querer comer de tudo. Não abuse agora. Deixa pra festa de hoje a noite.
Você vai ouvindo, ouvindo, ouvindo aquela ladainha enquanto se serve. Chega no torresmo e pega três achando que já está fazendo um grande sacrifício. Afinal o torresmo é alma da feijoada. Para um pouco, ouve aquela voz e devolve dois. Mais um pouco e a maldita voz, espera mais um pouco e devolve o outro. Aí é tarde, você já sucumbiu ao seu maldito bom senso. Você cedeu à sua consciência, ela o apanhou em um momento de fraqueza. Melhor parar.
Insisto. Muito cuidado.
Uma alternativa politicamente correta seria a feijoada dietética. Mas como seria isto? Uma técnica válida para sua elaboração seria a análise de todos os componentes, retirando-se aqueles que atentem contra os princípios básicos da alimentação sadia. Vamos começar com a caipirinha - sai - tem álcool e tem açúcar - horrível. Torresmo - sai - gordura pura. Pé de porco - sai. Orelha de porco - sai. Vamos tirar o porco todo de uma vez. Farinha - sai - engorda. Arroz - sai - engorda. Sal - só um pouco - melhor nem botar. Sobremesa - sai. Cafezinho - fica desde que seja com adoçante ou puro. Seguindo por este caminho, ficaremos apenas com a couve e a laranja. Eu tenho pavor de couve, de modo que ficaria com a laranja. Isto é mais ou menos como um programa de governo. Na eleição, torresmo à vontade. No final do mandato a casca da laranja.
Confesso que não chega a empolgar. Mas também não é tão ruim assim. Afinal com este friozinho nada como uma boa e suculenta laranja no almoço. Tem vitamina C e, vai que chova, você já está protegido. E o importante mesmo é sair, ver esta gente toda feliz, comendo uma bela feijoada.