Mirante
Lílian Maial
Era outono, tarde aconchegante,
Brisa despenteando vontades.
E um cheiro de amor e saudade,
Embotando a linha do horizonte.
Saída de não se sabe onde,
A lua, cor de rosa e indecente,
Provocava o sol, cansado e poente,
Que se deitava a acalmar a fronte.
E quanto mais ele se apagava,
Mais vibrante a outra se fazia,
Debruçada no mar que jazia,
Espalhando os cabelos de prata.
Não havia pressa em seus encantos
E por vários matizes se quis,
Enamorando o astro infeliz,
Que já sumia em silente pranto.
Foi quando, a um passo da hegemonia,
Um brilho estonteante a ofuscou
E pra longe no céu a fixou,
Enciumada de tanta energia.
Obcecada pela intensidade,
Nem viu a despedida solar,
Que vingou-se, pelo nosso olhar,
Refletindo, em nós, felicidade.
|