Eu vi o meu herói contando as notas
suadas, que ganhou com sua lida,
catando restos, lixo, pela rotas
da Pátria que lhe nega a própria vida!
As mãos estavam sujas e calosas
nos olhos o espelho da ferida
aberta em seu peito pela sorte
de só ter o descanso pela morte
Não paro de pensar na sua saga
tão triste no país do arrebol,
parece que lhe foi rogada praga
de nem poder gozar tão belo sol,
lutando contra essa sorte amarga
de ser queimado no fero crisol
d’injusta divisão do nosso erário
que só escorre para salafrário!
Às vezes me pergunto a razão
de tanta luta inglória sem futuro,
não vê que só defende a Nação
àqueles que traficam no escuro?
Se ele assumisse a decisão
de ser um assassino frio e duro
seria protegido, com direitos,
ao menos com um teto e ranchos feitos!
Eu falo desse homem que moureja
de sol a sol sem nunca se cansar,
vertendo pela fronte que poreja
suor porque só sabe trabalhar,
não passa em sua mente que a peleja
aqui não vale tanto qu’ o matar!
Meus olhos se empanam com o pranto
por esse a quem eu estimo tanto!
Assume, oh Brasil! De vez por todas,
a tua obrigação para com o pobre!
Termina d’uma vez as tuas bodas
com quem já tem demais, para que sobre
àqueles com quem não te incomodas!
Pratica para sempre o gesto nobre
de a árvore limpar com justas podas!
Não há maior justiça que o dar
de volta a quem lutou para criar!