Há um vale encantado, num lugar não mencionado, onde, encravado em seu centro, brilha sereno, o lago da virtude.
De dia, suas límpidas águas refletem o brilho ofuscante do Sol, criando uma aura dourada em suas margens. Seus peixes reluzem em cores esverdeadas, alaranjadas, avermelhadas, como raios solares dentro da terra. Toda a beleza da vida é ressaltada ao seu redor. O canto dos pássaros é mais terno, mavioso. A felicidade borbulha ante o fascínio da descoberta do que significa estar vivo!
À noite surge o fascinante espetáculo de se ver a Lua saindo de dentro do lago, pois a união de ambos é absurdamente perfeita! Como se fosse desse satélite sagrado que fluísse a prata líquida que preenche a arredondada cova na terra. O silêncio perante estupendo quadro, cria uma sensação mágica de se estar flutuando no céu!
Um dia, distraída, ouvi um zumbido em meus ouvidos. Era um vento precioso que viera me contar sobre a existência desse lago. Mas, o danadinho passou muito ligeiro e não me disse onde o encontrava. À época, eu era um corpo desprovido de alma, despojado das puras virtudes. Por isso resolvi procurar esse lago, essa jóia da vida. Cobiçava, avidamente, tanta beleza, tanta vida dentro de mim!
Viajei a lugares inusitados: pântanos, desertos, vastidões geladas, florestas, vales, e nada encontrava. Tudo tão belo, tudo tão vazio... Durante anos procurei em vão.
Um dia, um estranho acidente doméstico: meu espelho quebrou. Fui em busca de outro. Quebrou. E outro. Quebrou! Súbito, um sopro já conhecido assobiou em meus ouvidos: “- Os espelhos não estão quebrados! Eles não refletem você porque não há o que refletir!”. Uma lágrima escorreu. E depois outra. E outra. Um milhão de lágrimas num corpo ressecado? Então, em meio à poça de lágrimas brilhando no chão, pude, comovida, enxergar o lago. Achava, finalmente, o tesouro que procurara por tantos anos lá fora, atravessando fronteiras! Ele estava tão perto, mas tão longe, escondido, sufocado dentro do meu coração!
Meu lago da virtude, minha vida borbulhando em festa pela redescoberta do que significa estar viva! Apaixonei-me novamente pelo ardente fogo do Sol e pela fria luz prateada da Lua! Meu lago secreto encravado no centro de um vale encantado, em lugar não mencionado! Vale a pena achar e cuidar, com carinho, do seu!
Claudia Otsuka Hamanaka – cotshaka@hotmail.com
SP 18/04/2003
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