Piasse Clarice aqui no usina ,
seria diferente a sua sina?
Se no usina Clarice aparecesse,
teria (quem sabe?) quem a lesse?
No usina escrevesse, essa Clarice,
seria campeã da esquisitice?
Que abjetos emelhos não iria
amargar em meio à putaria!
Leitores, no usina , ma nem cheiro,
só se faz escrever, o tempo inteiro.
Mas Clarice, se usineira fosse,
amiga seria? E também doce?
Que dizer da pobre Macabéia,
fodida no zumzum da patuléia.
Sobreviveria aos desacatos,
aos tapas, sopapos e maus-tratos?
Teria sua vez entre os mais lidos?
Ou quiçá no paúl dos ressentidos?
O quadro de avisos encheria?
Citações sutis? Ou baixaria?
Cairia talvez no anonimato,
gracinha e cheiroso como um flato?
Faria o papel de Jenny-é-um-gênio,
rainha vanguardosa do milênio?
Punk ou chat-girl, se cara ou mina,
cevada em querelas de rotina?
Esquerdosa, louca e maldita,
Clarice, ulalá!, você na fita?
Ou faria a linha despeitada,
furibunda sempre amofinada?
Débil mental, voilá, mas quem diria,
como Ziraldo, Dali & Cia?
Que porre seria, rebordosa,
Clarice ensaiando miniprosa!
Se poria artigos em artigos ,
libelos contra os inimigos?
Em poesias , só poemas belos,
mui açucarados caramelos?
Em cartas , recatos inquietantes?
Em discursos , berros lancinantes?
Em frases , plagiaria, a descarada,
de Pessoa, de Borges ou de Almada?
Em humor , aquele calhamaço?
Só piada infame, mó regaço?
Em cordel , mon Dieu, suas obras-primas?
Que fita-métrica! Que rimas?
Em ensaios , dons de polemista,
passaria conceitos em revista?
Séria, em jurídicos , seria?
Em eróticos , God, mamma mia!
Em teses , seria uma precoce?
Lispectorante? Bão pra tosse?
Codinome seria, e da pesada,
pr essa galera muito da embaçada?
Se no usina houvesse uma Clarice?
Mas quem perguntou? Quem foi que disse?
Por fim, inventarão o engano ledo:
Clarice inventada por zé pedro.
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