Nos encontramos naquele vagão
Onde brincamos nossa infância.
Vimos juntos a mesma paisagem
Que aos nosssos olhos passava
Diante daquelas janelas.
Até hoje não sei se éramos nós
Que passávamos ou eram elas.
Brincamos muito novamente,
Rimos, estórias contamos
Sobre aquilo que já amamos,
De tudo que nos restou,
E o tempo, não vimos, passou.
Que vontade de ser criança
E um beijo outra vez te roubar.
Ver-te zangada, faces vermelhas,
Sair correndo e me esconder
Para poderes me procurar
E continuar a se fazer
De gente grande sem ser.
Mãos dadas, caminhando
Naqueles trilhos sem fim
Que nos trouxeram até aqui
Não mais para brincar
Apenas recordar o que fomos,
O que poderíamos ter sido,
O que deixamos de ser,
A esquina em que se dobrou.
Caminhos nem sempre retos,
Encontros, desencontros,
Trilhos que nos dobraram,
O tempo que nos vergou.
Aqui estamos nesta noite.
Apesar da chuva e do frio,
Me aqueço no teu olhar,
Na tua voz, no teu sorriso.
Meu corpo é só arrepio
E o néctar deste vinho
Me eleva pouco a pouco
Ao patamar do desejo
De te roubar outro beijo,
De te ver enrubescer,
De te sorver devagarinho
Como esse copo de vinho |