Muitas vezes, quando criança,
Sentado na calçada, em noite fria,
Na sua imaginação inocente,
Céu estrelado, silêncio, três estrelas escolheu
Como companheiras , amigas e confidentes.
Todas eram muito bonitas, cintilantes
E davam àquelas noites motivo e alegria
Para ficar horas e horas a olhar para o céu,
Sob aquele frio de inverno, em clima de montanha.
Cada uma tinha um nome pelo qual atendia
Quando conversavam, trocavam idéias
E estranhas coisas pedia.
Lembra, por exemplo, que queria voar
Para poder ver o mundo do alto das nuvens
E para todos os lugares viajar.
Havia também os pedidos possíveis
E alguns se concretizaram.
“Quando crescer quero ser soldado,
Escritor e engenheiro.
Sei que preciso muito estudar
E não tenho dinheiro.
Mas prometo que farei a minha parte”.
Às vezes, os pedidos mais simples
Eram logo atendidos, outros nunca.
Hoje, entende que sua relação com elas
Era meio lúdica e de amores morria.
Quando não apareciam, sua falta sentia.
Cada uma tinha um nome.
A Rainha aparecia todas as noites,
Estava sempre lhe acompanhando e até parecia o controlar.
Raras vezes não aparecia,
Mas quando isto acontecia,
Passavam-se dias e dias
Sem dar o ar de sua graça.
Era tanto tempo que ficava preocupado
De ela o ter abandonado.
A Vênus não aparecia todos os dias.
Não que não quisesse lhe fazer companhia,
Mas porque era forçada a se ausentar.
Parecia que tinha outros compromissos
E trabalhava muito. Era muito bonita também.
Tinha a impressão que se dependesse dela,
Apareceria todas as noites para conversar,
Trocar idéias, ajudá-lo, ouví-lo e ser ouvida,
Interceder por ele em seus pedidos.
A terceira ficou uns dias sem um nome
Porque não sabia como chamá-la.
Um dia, olhando para o jardim,
Deparou com uma linda rosa vermelha
Que refletia a tênue luz das estrelas no orvalho que retinha.
Seu nome passou a ser Rosa, a partir daquele momento.
Quase não aparecia, mas era de grande influência
Na mente daquela criança, pois a ouvia
Com muita atenção, ajudava nas horas difíceis
E quase sempre atendia a seus pedidos.
Talvez gostasse mais dela do que o contrário.
Uma vez lhe fez essa pergunta e ela deu a entender
Que não era verdade, que gostava tanto dela
Como as outras estrelas e que também iluminaria
Os seus passos na estrada longa da vida.
Só não podia fazê-la voar.
Gostaria também de aparecer todas as noites,
Mas outros elos a prendiam em outros lugares distantes,
Talvez outras crianças precisassem dela também.
Três musas, três amigas, três companheiras,
Acompanharam aquele garoto
O tempo todo, até se tornar adulto.
Hoje, não dava mais tanta importância
A essas coisas de criança,
Não olhava mais para o céu, não tinha noites de frio.
Somente enxergava as coisas materiais,
O trabalho, os problemas do dia-a-dia.
Mas, é sempre tempo de rever os conceitos,
Olhar para trás, ver o caminho percorrido
E voltar a ser criança, ter musas para se inspirar,
Estrelas para conversar, noites para sonhar,
Sonhos para viver.
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