Enquanto a moça almoça,
o moço fica alvoroçado.
Ele, moço casado,
Ela, isca do pecado.
Ele, garção no restaurante,
Ela, caixeira da loja ao lado.
Ele quer ser seu amante,
Ela chora ao ouvir um fado.
É todo dia a mesma incerteza:
Como me aproximar dessa beleza,
Se pergunta ele, mas ela
já está na sobremesa.
"Até amanhã!" - ela diz,
sem deixar gorjeta.
Ele balbucia um "até!",
fazendo uma careta.
O sofrimento do rapaz
é para o dia inteiro.
Se sente um incapaz,
é tímido e sem dinheiro.
Ele quer a moça,
mas não tem expediente.
Ela é muito bonita
e parece experiente.
Pensa ele, pecado é
deixar essa moça passar...
Um dia ela almoça e sai,
e esquece de pagar.
A oportunidade chegou -
"Moça!" - ele grita.
"A senhora esqueceu a conta!"
"Esqueci não" - ela retrucou.
"Queria ver você falar comigo.
Estou que não güento mais.
Quero conhecer você, meu amigo."
E dali se foram os dois, num repente,
ela mais o rapaz.
Que se sentia incapaz,
Mas que logo ficou valente.
Em seguida, pouco depois,
ela e ele ficaram amantes,
almoçavam feijão com arroz,
e tudo achavam interessante.
Ele mudou de emprego,
ela de caixeira virou gerente.
A mulher dele pediu divórcio,
enfim, se livrou do impotente.
Só que ela não sabia,
que o bom garção precisava
de um amor bem diferente,
que só a moça do almoço é que dava.
Fim de uma história,
que me ficou na memória.
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Érica Eye |
