O encontro de Bidião com a esfinge
Sempre fui um curioso sobre as culturas mitológicas grega e egípcia, tanto que me inquietava com aquela estátua de um monstro com cabeça humana, asas de águia e unhas de harpia, prestes a devorar quem não conseguisse decifrar. Ao embarcar num avião com destino ao Egito, já imaginava o encontro com uma estátua que simboliza poder, sol e sabedoria. Tentava imaginar como seria o diálogo com essa figura mítica se real ela fosse. A primeira reação minha seria de impotência frente a essa grandiosidade absoluta na relatividade da minha existência. Seria ela uma guerreira ou uma impáfia da personalidade de quem deu-lhe existência mitológica? Se assim for, talvez nos revele que o ser humano pode ser tudo num só corpo, onde homem ou mulher assumem características animais com garras afiadas e certeiras à jugular e asas com voos precisos da águia. Liberdade, fúria, prepotência, mas ao mesmo tempo sabedoria guardada a sete chaves. Durante o tempo de preparo ao sacerdócio, nunca sequer invoquei os santos mártires religiosos, por admiração ao que pode ser mitológico e que provoca mais curiosidade e impacto, após descoberta. Ao desembarcar, peguei um transfer rumo ao local mais próximo da esfinge de Gizé e tentava obter mais informações ao motorista sobre o que ele achava. Sua resposta causou-me espanto por não dar valor à cultura local onde fora nascido e criado, chegando a devolver a pergunta sobre o que me fez partir de tão longe, em busca de uma estátua de pedra em pleno deserto. Fiquei meio sem saber o que responder, pois iria me expor e receio de louco ser chamado. Sabedoria, poder e luminosidade jamais podem ser materializados. Eu entendia que forças não se medem pelo tamanho por meio de uma enorme estátua que representa apenas uma figura mitológica. É algo profundo inaudível e insondável à nós, meros mortais. Evitei responder, pois tratava-se do fato de estar num país com culturas diferentes em espaço territorial que não era o meu. Por isso, toda cautela no agir, pensar e falar deveriam ser tomados para não ferir a ideia que o nativo tinha daquela esfinge. Deixou-me no local próximo a esfinge e caminhei sob o escaldante sol com tempestade de areia que justificou o uso de um lenço transparente a proteger minha visão. Ao deparar com a estátua, tive noção da grandiosidade que há no homem ao idealizar e construir tamanha estrutura que representasse tudo numa só expressão da arquitetura e ao mesmo tempo das artes. Restou-me agradecer a oportunidade de reconhecer que ainda existem humanos de imensurável valor que utilizam não apenas escritos e depoimentos para expressar os mistérios que existem em um único ser mitológico ou não.
Palavra da Salvação!
Vai a paz!
Pedro Bidião de Pilar |