Bússolas tem o sagrado dever de apontar o norte. O norte magnético, que pouco difere do norte geográfico, todos sabem. Sabendo-se onde é o norte, sabe-se a direção dos demais pontos cardeais. Parece pouco, mas não é. Saber o norte ou, a direção em que se está andando é algo muito importante. Do contrário o viajante fica sem rumo e acaba fazendo besteira. Fico imaginando se alguém ainda usa bússolas. Não tenho dados, mas imagino que hoje em dia mesmo o mais inocente escoteirinho tenha um preciso aparelho GPS, cheio de botões e mostradores de cristal líquido. GPS, todos sabem, são aqueles aparelhinhos que dizem onde se está. Eles conversam com o satélite de plantão e num apertar de botões lá está. Longitude tal, latitude qual e pronto: sabe-se onde se está.
Assim, correndo o risco da generalização apressada, imagino que as bússolas estejam destinadas aos chaveiros e alguns parques temáticos de Orlando. Será mesmo? Por certo haverá ainda velhos lobos do mar, com barba grisalha e quepe surrado protegendo a calva, que haverão de persistir no uso de suas bússolas.
Vale lembrar que as bússolas ainda encontram aplicação sobre mesas de trabalho. Os visitantes ficam um bom tempo observando, perguntando-se se realmente é uma bússola. Alguns não resistem e perguntam sobre os motivos de sua permanência em um lugar que não se movimenta.
Já os pregos são objetos com múltiplas utilidades. A principal é a de ser pregado, enterrado na madeira. Não se preocupem, não escreverei sobre a função transcendental dos pregos na cruz, algozes do Cristo. Meu assunto é mais simples.
Pregos, em geral, têm cabeça. Mas, como tanta gente, não pensam. Quem pensaria levando pancadas na cabeça. Qualquer um fica abilolado, como se diz. De qualquer forma, pregos não pensam. Cabeças de alho também não pensam. A persistir o raciocínio poder-se-ia concluir que tudo que tem cabeça não pensa. Aparente contradição. Se o pensar não está na cabeça, onde estará? A julgar por certos pensamentos seria fácil apontar o local, mas não é justo generalizar.
Fica a questão.
Pregos são seres esbeltos, aparentados dos alfinetes, suas miniaturas, e das estacas. Pregos também podem residir em mesas de executivos e aí se diferenciam das bússolas pelo fato que ninguém pergunta o porque de sua permanência em lugar tão insólito. Apenas olham como se não acreditassem no que vêem. Melhor assim, a resposta pode não agradar.
Pregos não convivem bem com bússolas. Quando ficam muito perto deixam as bússolas meio malucas e incapazes de apontar a direção certa. Sem um norte a bússola perde a razão, fica abilolada. Já as bússolas, não fazem qualquer mal aos pregos que possam cercá-la. Segundo experimentos que tenho feito, é necessário manter o prego pelo menos uns cinco centímetros distante da bússola.
Observada esta distància mínima, não há dano nem para a bússola que persiste apontando o norte, nem para o prego. Mas é claro, isto depende da bússola e do prego.
