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cronicas-->Paz, muita paz -- 22/12/2002 - 12:24 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nos finais de ano é comum a formulação de votos de paz. Em geral, fala-se de muita paz. Todos querem paz, muita paz, ou pelo menos desejam para os outros.

Por algum tempo eu achava absolutamente sem graça esta conversa de querer paz. Imaginava a paz, como o céu após a morte, a quietude de quem estivesse sentado em uma dessas nuvens brancas. Achava chato, entediante. Hoje, nem tanto.

Hoje, quando falam em paz, lembro sempre das tais nuvens brancas, mas com outra visão, eu diria, mais madura. Agora são nuvens suaves, aparentemente leves, nuvens de sossego. Imagino-me lá em cima apreciando o burburinho, com um ar de não é comigo, sem me envolver com as questões ao nível do solo. Sem ouvir as buzinas, freadas, palavrões, tiros, vizinhos bateristas e tantos barulhos há ao nível do solo. Vistos lá de cima, são questões menores.

O que seria mais pacífico que uma nuvem branca e uma brisa suave? Algo parecido pode ser obtido com um edredom branco, um ventilador na velocidade mínima, e a tv ligada sem volume. Para uma tarde de sábado com chuva, após almoço farto, nada melhor.

Talvez a questão esteja na definição de paz. Talvez seja necessário usar adjetivos. Paz telefónica, por exemplo. Seria um período sem que o telefone tocasse. Não me refiro ao próprio telefone, pois deixá-lo tocar é uma opção soberana, conquista democrática obtida com a luta de tantos companheiros. Refiro-me ao telefone do próximo. Este não nos dá opção. Toca. Toca muito. Fala-se demais ao telefone hoje em dia, mas esta não é a maior questão. O maior problema é o maldito toque, sobretudo estas variações disponíveis nos celulares. Você está concentrado no trabalho, lendo com atenção, compreendendo e equacionando questões complexas, quase dormindo, e o tal telefone toca. O dono não atende e o telefone fica lá se esganiçando, implorando que alguém atenda, pois ele próprio não suporta sua voz. Muitas obras geniais e preciosas horas de sono são perdidas em função do telefone do próximo. A humanidade retarda sua evolução.

Imagine um dia inteiro sem ouvir um toque de telefone, uma chamada que seja. A isto certamente pode-se chamar paz. Paz telefónica, como proponho. Bem, talvez isto seja demais, tamanha benesse deve ser reservada aos seres superiores, dos quais por mais que me esforce ainda guardo uma certa distància. Pensando bem, no estágio atual da evolução humana, ficar sem uma única chamada durante um dia inteiro, talvez faça com que as pessoas se sintam desprezadas pelo mundo. Talvez seja melhor tolerar uma ou duas.

Nestes dias de juros altos a bem da política económica, da governabilidade, da transição democrática e da estabilidade do país, há muitos que sonham com o que poder-se-ia chamar de paz de credores dormindo. Mas não são muitos, hoje em dia a maioria não tem dívidas.

De qualquer forma, que cada um em 2003, tenha a paz que deseje. Ou precise.


Escrito em 14.12.2002
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