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Cordel-->Matança - Jatobá -- 05/08/2004 - 10:08 (Lucas Tenório) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Matança - Jatobá
(Cantado por Xangai*)

Cipó caboclo tá subindo na virola
chegou a hora do pinheiro balançar
sentir o cheiro do mato da imburana
descansar morrer de sono na sombra da barriguda
de nada vale tanto esforço do meu canto
pra nosso espanto tanta mata haja vão matar
foi mata atlântica e a próxima amazônica
arvoredos seculares impossível replantar
que triste sina teve cedro nosso primo
desde menino que eu nem gosto de falar
depois de tanto sofrimento seu destino
virou tamborete mesa cadeira balcão de bar
quem por acaso ouviu falar da sucupira
parece até mentira que o jacarandá
antes de virar poltrona porta armário
mora no dicionário vida-eterna milenar

Quem hoje é vivo corre perigo
e os inimigos do verde da sombra
o ar que se respira
e a clorofila das matas virgens
destruídas bom lembrar
que quando chegar a hora
é certo que não demora
não chama Nossa Senhora
só quem pode nos salvar

É caviúna, cerejeira, baraúna
imbuia, pau-d arco, solva
juazeiro, jatobá
gonçalo-alves, paraíba, itaúba
louro, ipê, paracaúba
peroba, massaranduba
carvalho, mogno, canela, imbuzeiro
catuaba, janaúba, arueira, araribá
pau-ferro, angico,amargoso, gameleira
andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá
___________________________________________

*Eugênio Avelino nasceu na região de Vitória da Conquista, na Bahia. Xangai é seu nome artístico, com o qual tornou-se conhecido pelo Brasil afora como um dos principais representantes da música agreste.

O chapéu que o acompanha pelos palcos da vida não nega: assim como o pai, ele é vaqueiro. "Eu sou da linha dos pastores, dos cuidadores de rebanhos de cabra, gado, sou vaqueiro também e adestrador de cavalos", diz. O artista é primo de Elomar, outro cantador e violeiro de renome, além de ainda ter parentesco com o famoso cineasta Glauber Rocha.

Xangai iniciou sua carreira em 1976 e transita dos forrós aos repentes, dos rodeios aos teatros, tocando com as mais diversas formações. Com Elomar, o paraibano Vital Farias e o pernambucano Geraldo Azevedo, gravou dois volumes do antológico Cantoria, registro de show de mesmo nome e disco de cabeceira de todo calouro de universidade. Mas é sozinho, com seu toque único de violão e brincando com a voz, que ele se solta melhor.

Atualmente, está divulgando o novo trabalho, Brasileirança, feito com o Quinteto da Paraíba. Lançado pela gravadora Kuarup, o CD contempla músicas de Juraildes da Cruz, Jacinto Silva e Onildo Almeida, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, além de outros importantes compositores. Entre as participações especiais estão a de Chico César e João Omar, filho de Elomar.

"Um cantor de voz agreste, com recursos intermináveis. Um quinteto de cordas apaixonado pela música popular, formado por virtuosos. Sertão e universidade. A música que desmascara os preconceitos e lhes oferece arte contra teorias banais", escreveu o crítico e produtor Ricardo Anísio no encarte de Brasileirança.

Mais que um disco, segundo o cantor baiano, trata-se de um projeto que consiste também num programa de rádio e de televisão. Nesta entrevista para SEM FRONTEIRAS, Xangai fala sobre suas influências musicais e a vida rural e faz questão de dizer que canta a língua mais rica do mundo: a "brasileira".

Como começou o projeto musical Brasileirança?

Tive um sopro, uma coisa assim. Essa palavra surgiu para mim e uma pessoa sugeriu Brasileirança, com "i". Estudei e vi que o "i" - ao invés de Brasilerança - dava uma força poética. Coloquei no disco esse nome. A partir do CD, achei que estava pouco explorado. Aí, fiz uma coisa expressiva. O Brasileirança passou a ser um programa de rádio e de televisão, que ainda não estreou.

Qual a proposta de fundo dessa iniciativa?

Eu tenho viajado por todos os cantos do Brasil e tenho conhecido a arte de muitas pessoas que tem de ser veiculada. Quero mostrar esses artistas emergentes. A música brasileira, cada dia que passa, é melhor. Agora, a que é divulgada nas rádios, paradoxalmente, é cada vez pior. O disco Brasileirança é uma viagem que eu faço, um bate-papo musical. Já trouxe para o show Elomar, Renato Teixeira, Belchior, Paulinho da Viola, artistas maravilhosos. O público fica encantado. Estou resgatando a cultura brasileira no meu disco e no programa de rádio.

Como teve início o seu trabalho de músico ligado às raízes do povo?

Eu sou de uma família rural, da região de Vitória da Conquista. Tenho parentesco próximo com Glauber Rocha; o próprio Elomar é meu primo. Aquela região do sertão baiano tem uma rica história de arte, cultura e poesia - há muitos poetas por lá e bons cantadores. Isso na parte urbana da cidade, que é de origem rural, de pecuária, com uma proximidade com Minas Gerais.

Minas Gerais também recebe uma influência imensa da Bahia. No disco tem muita coisa mineira, das cidades de Teófilo Otoni e Montes Claros. Você sabe que a língua é a mesma: brasileira. E as fronteiras só existem em linhas imaginárias e geograficamente, porque uma pessoa pode trafegar normalmente, sem saber que passou de São Paulo para Minas Gerais. A língua é a mesma, o que difere é o sotaque.

Qual é a sua fonte de inspiração?

O que eu canto é a presença de minha própria realidade. Eu não me sinto muito confortável em cantar músicas de outros povos longe daqui, principalmente dos países ricos, tão em moda, tão apregoados, cantados e decantados por muitos brasileiros, inclusive. Eu acho muito melhor cantar músicas de Cartola, Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, João do Valle, Jackson do Pandeiro do que dos Estados Unidos ou da Inglaterra. É muito bom para eles. Acho que eles também não ficam cantando Paulinho da Viola.

Para mim, é muito mais bacana cantar a minha própria língua, até porque dentro do Brasileirança eu tenho certeza "bussoluta", de bússola, que a língua mais rica é a portuguesa. Só não é mais rica que a língua brasileira, porque a brasileira é portuguesa e uma mistura da língua do índio, que é maravilhosa. Essa mistura deu a brasileirança, lingüisticamente falando. E eu sou um cantador da brasileirança.

Como está o mercado para a música de raiz?

Eu não sou de me queixar. Não paro de trabalhar. Tenho cantado em todos os cantos. Algumas pessoas têm um certo entrave. Se essa questão mercadológica não favorece muito essas pessoas é por conta de uma única coisa: a divulgação, porque se massifica muito. Uma música que não tem uma "sustância", não tem conteúdo poético, nem uma coisa que ficará. É uma armação, modelo descartável.

E sobre o que andam veiculando nas rádios?

Dá pena na gente, que quer bem o Brasil, ver nossos irmãos sendo fadados a ouvir esse lixo, que não representa nada. Mas eu, particularmente, tenho trabalhado noutra direção. Têm muitos brasileiros acordados, muitos buscadores do belo. Dão um jeito de encontrar o trabalho de Almir Sater, Juraildes da Cruz, que é maravilhoso. Quando a gente vai cantar nos lugares, sempre tem um público bacana para nos ver, público que nos proporciona viver da música.

Você sempre grava pela Kuarup ou tem trabalhado com outras gravadoras também?

Eu não estou preso a nenhuma gravadora. É que a Kuarup tem o melhor catálogo do Brasil de música "brasileirança". A Kuarup tem sido muito honesta comigo.

Como seria a sua liberdade como artista se você estivesse numa grande gravadora?

O primeiro disco que eu gravei foi numa multinacional e me trataram como um trapo, sabendo que eu tenho qualidade. Tomei uma decisão: não faço mais trabalho para esse povo, a não ser que me queiram muito e que não me tirem o direito de fazer o que eu acho que tenho que fazer.

De onde vem o seu nome?

Eugênio Avelino, nome do meu bisavô e avô.

E o Xangai?

Ah, você quer saber o meu apelido? (risos) Numa ocasião, meu pai comprou uma sorveteria em Minas Gerais e eu fui para lá ajudar a criar meus irmãos mais novos. A sorveteria chamava-se Xangai. Trabalhei nela e, por causa disso, passei a ser chamado assim. É como se alguém lhe chamasse "Oi, Sem Fronteiras" e aí pegasse o apelido. A história é essa.

Quantos anos você tinha nessa época?

Uns 17 ou 18 anos.

Foi antes de você começar a carreira?

Não, eu sempre fui um artista. Canto desde garoto.

Você acha que o artista tem que ter algum tipo de militância para mudar o país?

Não. O artista necessariamente tem que ter talento. Por uma questão de consciência social, é muito proveitoso ele utilizar a sua arte para auxiliar, através do texto, da poesia, da música, a evolução do seu semelhante. E como é que se processa isso? Da maneira que puder. Clareando, apontando o caminho. A maneira que eu penso ser a mais adequada de se ser social é contar a realidade do ser humano. Existem outros que são alienados. Essa alienação é altamente perniciosa.

Evanize Sydow, para a Revista Sem Fronteiras

Entrevista publicada na Revista Sem Fronteiras (www.semfronteirasweb.com.br), setembro, 2002







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