Usina de Letras
Usina de Letras
48 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50669)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->PROJETO -- 27/01/2019 - 17:01 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Projeto “Música Brasileira”



Série “A Produção Cultural Brasileira nos anos 70”



Funarte – Centro de Documentação e Pesquisa



L. C. Vinholes



Limpando gavetas, depois de muitas décadas, não é estranho encontrar coisas que causam surpresas. As vezes são objetos, pequenos mimos, que restam como portadores de afetividades, lembranças de alguém ou de algum momento, mas também aparecem textos que parecem não terem sido escritos por nós mesmos ou que, por não terem perdido a atualidade, foram escritos há pouco para registar realidades de hoje. A impressão que se tem é que o tempo não andou, ficou parado. Exemplo do que disse acima é o questionário com três perguntas, datado de 12 de setembro de 1979 e que só tenho certeza de que fui eu mesmo quem as respondeu, porque no final do texto encontrei minha assinatura. Quem as formulou e de quem elas vieram não tenho nem registro, nem lembrança. O cabeçalho que encima as perguntas dá alguma pista e ajuda a levantar a hipóteses de que teria origem em algum projeto sondando o que pensavam os que se dedicavam à composição musical brasileira dos anos 1970. Vejamos as perguntas e o que minhas respostas dizem: Como componho? Pelo menos desde 1956, quando escrevi Tempo-Espaço I e II, duas pequenas peças para violino, viola e violoncelo, tenho procurado realizar um trabalho preocupando-me com a estruturação, com a concretização de uma linguagem baseada em princípios que surgiram como fruto de anos de pesquisa e artesanato. Os seus fundamentos foram por mim expostos em três conferências realizadas na Escola Livre de Música da Pró Arte, em São Paulo, em setembro daquele ano. Enquanto isto acontecia, eu escrevia também algumas obras utilizando a técnica dodecafônica, na qual encontrei limitações similares às existentes nas linguagens dos modalismos e tonalismos que as precederam. Interessa-me uma linguagem que me permita criar uma obra aberta, sem barreiras e restrições, uma espécie de caleidoscópio, plural, uma obra sem compromissos, na qual os tempos sejam somados e o tempo não seja apenas dividido, uma obra que não cercie as possibilidades que possam vir a ser nela descobertas e discutidas por quem por ela se interesse. Assim, neste espírito, surgiu, até agora, a maioria do que escrevi, tudo para música de câmara. Componho também de parceria com os intérpretes de meus trabalhos de música aleatória, na qual Gilberto Mendes afirma ter sido eu pioneiro no Brasil. Esta música, quando tratada seriamente, é dificílima de ser realizada. A meu ver, não é qualquer rabisco ou arranjo gráfico que pode ser levado a sério. Acredito que muito pode ser feito no campo da música aleatória. Eu mesmo ainda tento. Fascinam-me os seus aspectos temporísticos. Acabo de formular um trabalho de música aleatória para ser realizado por vozes, como parcela de colaboração às comemorações do Ano Internacional da Criança. Por que componho? Levando em consideração apenas o que ainda se verifica no Brasil, onde os direitos autorais do músico são letra morta; onde a edição de uma partitura é problemática e cara; onde a apresentação da criação musical é dificultada pelas deficiências e ineficiências e pelos interesses e desinteresses; onde as plateias são mantidas bitoladas e engajadas; onde os músicos, para sobreviver, vivem de acertos e acomodações; onde uma partitura não pode concorrer com um livro, um óleo, uma gravura ou uma escultura; onde o analfabetismo e a educação primária ainda servem à explorações; onde os problemas da educação e da cultura, inclusive a musical, por anos sem fim, ficam nas mãos de autoridades com formação alheia às causas da Cultura e das Artes; é difícil justificar e responder por que componho. Talvez não seja inexato afirmar que, até agora, compus por teimosia. Ou, quem sabe, ainda por necessidade vital de comunicação. Para quem componho? Componho primeiramente para mim mesmo, como exercício e por encontrar nesta atividade intelectual uma forma de realização pessoal. Componho também para uma plateia que sei ser reduzida e com a qual encontro motivos para estar satisfeito. Componho para uma plateia que tende a crescer e que gosta de participar e não de consumir fórmulas.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 10Exibido 637 vezesFale com o autor