Usina de Letras
Usina de Letras
177 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62266 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50655)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->fábula de paisagem, ou o passado em revista -- 20/07/2000 - 21:40 (renato frança) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Encontro-me fechado. Nas mãos as coisas de sempre, inesquecíveis. O passado desconcertante me penetra instantàneo ao virar a página e dar de cara com a nudez de uma morena.
Intriga-me esse fingir de todos os dias, o pensar que me dá prazer a fantasia das fotos, imagens que se infurnam em meu cérebro para que no sonho delas faça uso. Como na TV.
E esse corpo moreno, como o que já foi meu, perdido no tempo, no meu claustro.
Essas revistas americanas são sempre iguais, por que então o fato desta de nome PUSSY me trazer às portas de uma viagem sempre adiada? Por que Alice retorna após a construção do enorme abismo? Uma forte dor, uma foto.
"os olhos me fitavam com espanto, paralisados. Cores lisas e brilhantes, a única diferença para a fechadura obscurecida onde passava os melhores minutos da vida. Sempre admirando minúcias... que trauma este o de admirar as partes mínimas, os adornos secretos. O mal dos santos."
Alice eu via como na minha infància. Do lado de fora. Parecia saber de tudo, mas nem se incomodava de me deixar como uma pedra em seu caminho. O meu estado trêmulo... às vezes eu fazia-lhe abrir os lábios enormes, que esboçam um sorriso ingênuo, o mesmo da virgem dos domingos. Eu ia corredor afora, recitando a oração de São Francisco. E logo era convidado a ensaiar a vocação.
Quantas vezes era surpreendido no banheiro, ela me olhando de cima a baixo ao trazer a toalha. Morria de vergonha, mas logo que se agachava suas pernas refletiam a luz do lustre, confundida na fumaça, esquecia de tudo o que me remoía a cabeça e somente em silêncio me deixava levar pelo vaivém de seus braços.
Quantas vezes era surpreendido e me deixava ver sem reação alguma. Que fazer nessas horas em que se desfaz um mistério? A partir de então, passei a sguir os seus passos.
Passei dias e noites fugiindo da própria sombra. Medo? Esquivar-me? A minha máscara. Tantas portas cerradas, opacas, desvios. Esse ardor de ver Alice como ela me vira.
Esse ardor, o de ver Alice, não me dava trégua. Obsessivamente um dia descobri o lençol que nos envolvia. Uma noite, uma luz quase imperceptível, que custo ver... na escuridão do quarto dos fundos, do quarto de Alice, os meus passos vacilantes, os olhos magnetizados. Da porta entreaberta consegui perceber sua respiração esquisita, perdida no ar, como um vagalume atraente, vagando o brilho, pintado nas unhas, esmalte vermelho cintilante. Formas invisíveis a olho nu. Desprendi-me das correntes, deixei cair o pano e com os olhos me mostrei. Estático, ali a sua frente como antes no banheiro.
Tentei ver em seu rosto o meu endurecido. Nada parecia normal. Debrucei-me ao pé da cama, ensaiando cada gesto. De repente rouba-me o braço num forte impulso, cristalizando o desejo. Atordoado, só me vejo no meu quarto, debaixo da coberta, cheio de calafrios, uma estranha febre.
Passo dias sem dizer uma palavra, os pensamentos são versos de domingo me cobrando a vocação. Como barris de água fria.
Mas ela persistia em mim,invadindo os meus domínios. A todos instante ouvia os seus gemidos. Como somente eu os ouvia? Girava de um lado para outro. Doi fortes braços me dividiam. Não adormecia sem antes experimentar de novo a fantasia.
Novamente encontrava-me ao pé da cama, vendo seu corpo estirado num mar bravio. Não conseguia conter em mim os gemidos esquisitos cada vez mais altos. Seus olhos agora espelhavam os meus delírios; encontrou-me rápida, despiu-me, beijou cada parte que póde alcançar. Meus ouvidos tomados de estranha surdez, quase dolorosa. Separou-se de mim, estanque. Vi-me à frente do festival íntimo, desvendado a cada corte nos lábios. O sangue escorria, eu escorria, nos misturávamos satisfeitos com o medo do estranho, do indefinido, do que não entendia ainda, até um fim rápido, eu desmaiando em minha cama.
Imaginei reviver em todos os dias. Não poderia mais conter tanta coisa inusitada; na segunda noite, porém, o fio da realidade despertou o pesadelo, o ruído da porta que desconfiava, eu nos braços de Alice. Tudo era ruína.
Da janela do quarto o adeus e a promessa de que nada seria esquecido. Eu me prometia.
Continua a revista em minhas mãos e as lembranças vindas em cada cena. De Alice nada sei ou ouvi dizer. Também da minha vida, então depois da infància, descoberta dos mistérios.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui