Desde criança, procurei utilizar o respeito aos espaços alheios, principalmente quando ia à pesca na Lagoa Manguaba com a criançada da vizinhança. Ao lançar o anzol com a isca, aguardava com paciência o peixe mordê-la. Após cada êxito na captura do pescado, tirava foto e fazia o animal retornar ao seu habitat. Quando minhas iscas acabavam, limpava a área que tinha utilizado e observava aos meus companheiros na aventura lagunar.
Não conseguia ousar pedir mais iscas ou mesmo intervir na atividade dos demais, pois sentia que a cada um, é dada a oportunidade de tentar. Meu ímpeto, se resumia no rápido retorno ao silêncio na maioria das vezes, mal interpretado e nem sequer questionado. Precisava sempre do sábio silêncio para poder escutar melhor os ruídos internos e assim, evitaria o falar desnecessário. Talvez, tenha sido isso o fato que provocou meu interesse pela vida sacerdotal. O mundo faz barulho demasiado. Fui aos poucos e com dificuldades, me reinventando após a cada ausência de forças para, poder renascer. A cada renascimento, percebia que o respeito aos espaços me fizera um ser predestinado à solidão, e ao mesmo tempo, à falta de compreensão. Como entender é um erro, já dizia Clarice Lispector, alinhei ao pensamento de aceitar a todos como são, embora pudesse achar esquisito e estranho, o porquê da não reciprocidade ao meu desejo. Certa feita, Raquel de Queiroz, afirmou que a vida é um eterno doer o qual, somente termina com a morte. Aproveitando a deixa dessa imortal personalidade literária, percebo ainda que a existência dói pois tudo nela envolve aprendizado. Refiro -me aqui o ato de desenvolver a empatia, mesmo não compreendendo a nada. Vejo então que não bastava apenas o respeito sem o gesto de empatizar com o próximo, mesmo que esse próximo me faça sentir tão distante. Concluí ao longo de solidão populosa, que a empatia é um dos grandes desafios da espécie humana. Ao longo dos anos no Mosteiro, tive que renascer todos os dias. Sempre houve em mim a necessidade de superar desafios que sempre foram impostos pelas circunstâncias e não bastava apenas respeito e empatia. Resistência e persistência deveriam fazer parte do meu renascimento. Seriam então, minhas armas de guerra na luta pela arte de sobreviver.