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Contos-->A mesa -- 31/03/2003 - 16:59 (Hideraldo Montenegro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sentou-se numa mesa de um bar e passou vinte anos. Esqueceu esposa, filhos, gato e cachorro. Voltava para casa, sempre muito tarde, mas a mesa continuava em sua vida.
Na verdade, foi a mesa que se sentou em sua mente. Por isso, não conseguia escutar nada do que falavam para ele. Mesmo quando acordava ainda estava entorpecido e com a mesa em suas idéias.
O que será que ele encontrou nela?
Uma vida autêntica, onde era forte, rico, poderoso, garanhão e o mais inteligente. Por que as pessoas não conseguiam entender isto? Ele não conseguia compreender. Ou, de fato compreendesse.
“Elas não me vêem. Não conseguem vê o que sou realmente. Talvez elas precisassem beber para conseguir ver a real essência das pessoas.”
Lá, naquela mesa, era feliz, verdadeiro. Todos, dizia quando resolvia fazer discursos inflamados pelo álcool, são uns hipócritas. São caretas, cegos e imbecis.
Sempre que ele fazia aquele discurso escutava aplausos. Ás vezes, conseguia até um brinde grátis, pago por alguém empolgado com suas palavras.
-É isso aí! Vou lhe pagar uma dose por estas sábias palavras! Todos são hipócritas! Até o meu cachorro é um hipócrita! Outro dia, o chamei para levar um papo e, ele, nem aí. Não deu a mínima!- Disse um companheiro de copo entusiasmado com aquelas palavras pronunciadas por ele.
Mas, a conversa predileta ali, naquela mesa, era sobre as suas esposas. Todas eram umas incompreensíveis. E, esta constatação os unia mais.
-Mais uma dose!
Naquela mesa a vida se revelava mais clara. Todos ali eram gênios incompreendidos. Os outros, lá fora, não conseguiam perceber o valor deles, por isso eles os desprezavam.
-Um brinde!
Então, falavam de política, sexo, esporte, religião e do passado. Não tinham mais projetos. Eram, agora, apenas esponjas.
Para ele, a descoberta da bebida foi como um colírio que abriu os seus olhos para a realidade. Antes era um cidadão pacato, tímido. Tinha vergonha até mesmo de falar.
Agora não, era a pessoa mais conhecida naquele bar. Muitos, às vezes, sentavam naquela mesa só para lhe escutar.
Tinha parado de trabalhar, de copular e de comer. Há muito que não fazia sexo, praticava esporte ou participava de alguma ação comunitária. Entretanto, achava o seu viver concreto, real, efetivo. Ao menos tinha orgulho dos elogios que os outros companheiros de copo faziam à sua eloqüência alcoólica.
Era isso! Ali ele se sentia importante, o tal..
Um belo dia, como de costume, sentou-se à mesa. O bar ainda estava vazio, era o primeiro a entrar ali naquela noite. Olhou para a mesa e começou a conversar com ela.
O garçom achou aquilo estranho. É verdade que já tinha assistido todo tipo de aberrações engraçadas dos bêbados, mas falar com uma mesa...!
-Minha cara, a vida é uma ilusão! Como um homem passa tanto tempo vivendo sem existir? Vamos, me responda? O que acha?
Passou um longo tempo em silêncio. Depois se levantou e, para surpresa do garçom, foi embora.
- Será que a mesa falou alguma coisa para ele?!
O garçom pegou uma dose e sentou-se naquela mesa. Até hoje ele está esperando ela lhe falar alguma coisa, embora, tenha perdido o emprego, a esposa e os filhos.

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