Era véspera de Natal, Maria estava para ter criança. Desde cedo já estava sentindo dores, a barriga parecia que ia cair de tão baixa que estava. Os pés pareciam pilões inchados dentro da sandália de dedo que usava.
No fogão, Maria preparava a ceia, se é que se podia chamar de ceia, aquela galinha com farofa.
João seu companheiro, pois nem marido era, tinha convidado uns amigos para cear e beber cerveja, no barraco.
Maria começou a pensar na outra Maria, a mãe de Jesus. A outra Maria esperara o filho de Deus, e o dela era do João mesmo.
Maria pensava e tentava raciocinar, se todos eram filhos de Deus o dela também era.
Maria começou a imaginar como seria o seu filho: Provavelmente cresceria sem saber ler e escrever, igual a Jesus, o filho da outra Maria. Se tivesse o dom da palavra com certeza não seria para pregar o bem e sim para fazer a apologia do crime e da droga igual ao pai. Afinal era o que se via ali naquele lugar onde morava, era natural.
Maria sabia que como a outra Maria, também choraria pelo seu filho, dor de mãe é sempre igual.
Como Jesus, pensava, seu filho, também morreria jovem, não na cruz, mas de overdose ou de tiroteio com a policia. Talvez morresse, ainda mais novo que o outro.
Maria já começara a chorar pelo filho que teria antes mesmo de o ter.
- "João, chamou Maria, me leva para o hospital para ter o seu filho que está nascendo".
João irritado vira-se para os amigos, e diz:
- "Vê se hoje é dia de parir! Só mesmo Maria para me fazer uma desfeita dessa!"
Convencido pelos amigos João leva Maria para o hospital.
- " Não tem vaga" Dizem-lhe logo na portaria.
Maria já não suportando mais e sentindo a criança nascer, deita-se no chão do corredor da emergência, e ali mesmo tem o seu filho, que não era Jesus.
O filho de Maria nasceu e morreu em seguida.
Maria com os olhos cheios de lágrimas vê como numa nuvem a imagem da outra Maria, a Virgem Maria carregando um menino no colo, como se o estivesse levando para o céu.
Obrigada minha Virgem Maria, por levar meu filho, agora sei que era filho de Deus. Muito obrigado, agradece em pensamento, Maria a mulher de João. Fecha os olhos e dorme pensando: " Foi melhor assim!
Coisas da Vida!
Marlène Tavares 19/12/2002
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