A cada vez que um amigo
Teima em repetir que não,
Eis que deve retornar,
Com uma nova feição.
Rejeitou ser bom amigo:
Berrou, protestou, deu urros.
Não teve grande fortuna:
Está no meio dos burros.
Não quis aceitar trabalho.;
Sempre ali a escamoteá-lo.
Voltou muito transformado:
Veio em forma de cavalo.
Envenenou toda a gente:
Mulher, filharada, sogra.
Do seu encarne chegou
Rastejante como cobra.
Ninguém tinha vez com ele,
Se quisesse melhorar.
É agora um papagaio:
Não pára mais de falar.
Respondia pelo avesso,
Iludindo os companheiros.
Perturba agora os insetos:
É aranha em seus telheiros.
Estava perto do fim,
Mas jamais abriu a mão.
Hoje, no cofre do banco,
É microscópico anão.
Sinto muito, caro amigo,
Não ter ido até o fim.
Terei ainda outras chances.;
Queira esperar, pois, por mim.
— “Estou sempre às suas ordens” —,
Diz o médium, pressuroso,
Com medo de que fujamos,
Refestelado de gozo.
Não queremos complicar
Por demais nossa quadrinha:
Iria faltar-nos ar,
Se perdêssemos a linha.
O bom colega Antonelo
Sentiu-se mui furibundo,
Quando criou a certeza
De que voltaria ao mundo.
Pensava ter isenção,
Por haver muito sofrido.;
Esqueceu-se de reaver
O bem que estava perdido.
Quando era ainda jovem,
Perpetrou tremendo crime.;
Foi preso e trancafiado,
Mas a prisão não redime.
É preciso estremecer
No íntimo da consciência,
Para bem compreender
O valor da obediência.
São sagrados os ensinos
Emanados de Jesus.;
Para não voltar ao mundo,
Tem de estar cheio de luz.
Queremos deixar recado
Direto para o escrevente:
Quando se sentir cansado,
Rogue auxílio, em prece ardente.
Se quiser contar as quadras,
Aperte agora o botão.;
Mas acredite, amiguinho,
Estamos de pé no chão.
Se o dia lhe pareceu
Por demais aproveitável,
Aguarde por mais quadrinhas:
Está será descartável.
Querido amigo escrevente,
Não se aflija por tão pouco:
Acredite nesta gente,
Apesar do grito rouco.
Não queríamos trazer
Tão grave complicação:
Assim voltamos a ter
Somente rimas em -ão.
Já preenchemos a quota
Determinada p’ro dia.;
Acertemos nossa rota:
É hora da romaria.
São inúmeros os seres
Que volitam entre nós,
Todos querendo fazer
Bem ouvida sua voz.
Por isso é que muitas vezes,
Logo após a despedida,
Ainda se vê o escrevente
Envolvido com zumbida.
Não complete, caro amigo,
Nesta hora a quadra acima.;
Remeta para mais tarde
O encontro daquela rima.
Sem que tivesse sentido,
Avançamos tarde adentro.;
Precisamos ir embora:
Hoje à noite, temos centro.
É hora de agradecer
Respeitoso esta emoção
De boa acolhida amiga:
Fique com Deus, caro irmão!
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