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Infantil-->O PRESENTE -- 01/08/2002 - 23:53 (VIRGILIO DE ANDRADE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Natal é época de se presentear. Toda criança sabe muito bem o que quer, e, necessariamente não precisa ser caro. Mas se barulhento e colorido, o presente se tornará um objeto de desejo para olhinhos pidão. E de pronto, já se perde a noção do querer; e a paixão supera a razão.
No dia 21, Dona Rosa deparou-se com uma inesperada e longa lista de sugestões colada no espelho do toalete. E, para que aquele lembrete não passasse por desapercebido, as crianças viram por bem espalhar algumas cópias pela casa afora. Na porta recado da geladeira encontrou uma lista idêntica. Na porta do quarda-roupas idem. E não precisou esperar muito tempo para descobrir que também havia um bilhete colado no pára-brisa do carro.
Esses meninos não se emendam!, pensou ela. Se pensam que vão me convencer com essas indiretas, vão ter que dar provas que merecem que tão à altura de merecerem cada sugestão apresentada.
Pegou uma caneta e correu o olho na lista:
Bicicleta; nem vê! Aqui em casa não tem espaço.
Prancha de surfe; só se eu estivesse louca! Aqui não tem praia.
Férias em Aracaju; só se quiserem catar caju! Afinal, Marquinho ficara para recuperação.
Televisão nova; nem pensar! Duas já são mais que suficiente.

E assim, ficou por um bom tempo riscando o papel com um traço vermelho. Quando já não havia onde riscar, reuniu as crianças para uma reunião familiar e nem esperou para perguntarem do que se tratava para dar seu veredicto.

- Muito bem; vamos ao que interessa: Algum de vocês já imaginou o que seu pai tem que rebolar para por dinheiro nessa casa?
Ninguém se atreveu responder.

- Eu vou contar uma história e espero que cada um de vocês faça um esforço enorme para compreender a onde estou querendo chegar.

A platéia permaneceu em silêncio. Ninguém sabia ao certo o que ela tinha a dizer mais podiam concluir que não seria do agrado.
Dona rosa deu prosseguimento.

- O pai de vocês está a seis anos sem receber um centavo sequer de aumento.Nesse período, se vocês tivessem curiosidade de verificar os preços, não teriam dificuldade de atestar que tudo subiu de preço. Telefone, água, luz, IPTU, alimentação, mensalidade escolar, e por aí vai.

Dona Rosa ficou por quase quarenta minutos enumerando uma série de motivos para justificar que naquele ano não haveria gastança nos presentes de natal. A situação estava difícil, todos andavam de cinto apertado, e não havia motivação para comprar o que de fato não necessitavam. No entanto, quanto mais argumentos empregavam na sua oratória, mais e mais não se fazia compreender. Por fim, sentindo-se exausta, cedeu a palavra para o filho mais velho, Marcos.

- Olha mamãe, eu não posso compreender porque a senhora diz que está tudo tão caro, pela hora da morte, como mesmo diz. No jornal só se fala que o índice do custo de vida abaixou! Que não teve inflação ou, se teve, foi uma deflação!
- Muito bem; gostei de ver; felizmente nós temos na família um gênio da economia! E agora me responda: você já ouviu alguma vez anunciarem aumento de salário?
- Não! Isso não.
- Estão você vai o seguinte, quando acabarmos a reunião, você vai pegar as contas de telefone, luz, água, separar mês a mês, para ver se teve ou não teve inflação.

Marcos ficou ressabiado, sem saber o que dizer, mas a irmã mais nova tratou de arranjar uma solução.
- O papai podia comprar no cartão.
- No cartão! E quem vai pagar o cartão?
- Ora, ele compra parcelado e vai pagando um pouquinho a cada mês.
- Ah, então você acha que é assim! Tão simples?
- Se for complicado eu não sei. Ma sei que todas as pessoas têm cartão, inclusive o papai.
- Meus Deus do céu! Eu só queria saber para que vocês estão estudando...
- Ôoo, mãe! – atalhou Marlene, que até aquele momento havia ficado calada. – Pelo menos uma presente para cada um.
- Daquela lista? Nem ver! – ralhou ela.

A reunião acabou sem que ninguém se desse por vencido. Dona Rosa disposta a não ceder um milímetro na sua decisão; e as crianças planejando a melhor maneira de abordar o pai.
- O pai a gente convence... - sussurrou a irmã mais nova para irmão. - É só você lavar, encerar, e deixar o carro nos trinques, que ele vai pensar duas vezes antes de dizer não.

E assim foi feito. O carro que estava todo empoeirado e encardido ficou tão reluzente que parecia ter saído da concessionária. A superfície emborrachada foi caprichosamente encerada com tintura especial e as parte metálicas polida com brasol. Para finalizar, recebeu uma vaporizada de desodorante automotivo. Ficou tão impecavelmente bem cuidado que duas pessoas que passavam pela rua perguntaram se estava a venda.

Pronto, a primeira parte do plano foi cumprido á contento. Só restava esperar o dia seguinte para ver qual seria o resultado. Quando ao papai chegasse e visse o carro daquele jeito era o momento certo para agir e tirar proveito.

Quando o pai apertou a campainha todos estavam aposto, na sala, como se nada houvesse a ser dito. E quando entrou na sala trazia na bagagem três caixas de bom tamanho. Mas estavam embrulhadas com papel de presente. E por isso mesmo, não atraiu a atenção de mingúem.

Marcos correu para ajudar o motorista descarregar as caixas e deposita-las na garagem, próximo ao carro do pai, para induzi-lo a dar uma olhadela no veículo.
O Senhor Geraldo olhou naquela direção e indagou:

- Trocaram meu carro?
- Todos sorriam
- Que nada pai; dei uma boa lavada nele!
- Pô, filhão... mas que lavada! Uma lavada dessa a cada semana e ele fica zero bala. –

A esposa, ciente da intenção dos filhos, tratou de afasta-lo daqueles espertinhos com a desculpa que ele merecia descansar da viagem. Somente após um banho relaxante eles poderiam retornar seus agrados cheios de segundas intenções. O trio não aprovou ficou , no todo, satisfeito. Não queriam perder o calor da emoção e deixar a oportunidade escapar pelo ralo do chuveiro. Insistiram mais uma vez. Mas foram contidos pela mãe.

- Que saco! – resmungou a filha caçula.

E a mãe deu-lhe uma reprimenda com um açoito do olhar. E todos tiveram que se contentar em esperar uma outra oportunidade, que só se fez possível, após o jantar.
Entre uma garfada e outra, deram a entender que era o momento oportuno para tecerem planos visando o festejo natalino.
Tudo ficou bem esclarecido quando Amanda informou, que, se pudesse escolher, preferiria escolher um presente a ter que ficar enfeitando a casa para a noite de natal. No que os demais também concordaram. Todo ano é sempre a mesma coisa, árvore, adornos, mensagens, sapato na janela, e jantar a luz de vela. Desta vez, queriam algo diferente. Marcos foi o mais incisivo, e sugeriu: que tal se cada um pudesse escolher seu presente?
Ante aquela sugestão, que mais parecia uma decisão, o pai tomou a apalavra.

- - Muito bem... já entendi. Mas antes de qualquer coisa, quero fazer alguns esclarecimentos: natal é uma festa religiosa que tem como objetivo maior, reunir a família em torno do ideal cristã. O desejo de presentear, é um subterfúgio que as pessoas encontraram para poder externar o sentimento de fraternidade, o qual, em muitos momentos, fica travado na garganta e não conseguimos botar para fora.

- Pó,pai... é só um presentinho. – atalhou Marcos
- Me dê um segundo, que chego lá. – ralhou o pai. – Pois bem: se levarmos em conta que decisão de presentear, é um desejo íntimo do presenteador, que, na sua busca de se fazer lembrado e amado,

Amanda pediu a palavra.
- Essa sua explicação está fincando muito cumprida, pai. Tá meio filosófico.
- Filosófico? – interpô-se, sorrindo.
- Muito complicado! – complementou Marcos.
- Se está complicado; é melhor descomplicar. E para descomplicar; pelo que fui informado, você ficou para recuperação.
- Mas só foi em matemática, pai!
- Se foi em matemática, é um bom motivo para começar a aprender fazer contas: você é capaz de calcular quantos brinquedos estão amontoados no sótão?

As crianças se entreolharam como se indagasse qual era a motivação daquela pergunta. Chegaram a pensar que era só mais uma anedota do pai, que, de vez em quando, inventava umas histórias sem muito sentido só para tentar explicar as dificuldades do dia a dia. Mas dessa vez ele estava sério. Tão sério que não piscou o olho como sempre costumava fazer nesses momentos.
Foi então, que o pai tomou uma atitude ainda mais invulgar.

- Todos para o sótão. Quero que cada um recolha seus presentes de outros natais, e façam uma pilha no canto da sala.

E todos o atenderam.
Pouco depois, pela altura de cada amontoado, poderia se julgar que estávamos num shopping de liquidação. Havia presentes para todos os gostos e tamanho. Muito deles, tão perfeitos e conservados, que parecia que nunca tinham sido manuseados.
O pai voltou a ter com eles.

- Muito bem... alguém é capaz de avaliar o quanto de dinheiro foi desperdiçado nessas quinquilharias que vocês não querem mais usar? Alguém é capaz de me dizer qual o melhor destino a ser dado a tantos brinquedos, aparentemente úteis e servíveis,.e que vocês julgam inúteis e inservíveis?
Desta vez foi Luana quem falou.

- A gente podia vender... Vender e comprar outra coisa que nos fosse mais útil!
- É uma ótima idéia. – atinou o pai. – tanto é; que se fizerem um bom negócio, é bem possível que eu possa pensar na sugestão de vocês. E quem sabe, com o dinheiro apurado, poderemos comprar os presentes que vocês querem.
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