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cronicas-->ELE -- 18/12/2002 - 09:50 ( Alberto Amoêdo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando acordava no dia seguinte e me dava conta que a cama estava vazia e que o calor que me acompanhou pela noite fria fora de minha irmãzinha, começava uma procura; ia até a sala, entrava no quarto da mamãe, no banheiro e na cozinha... a casa parecia um grande labirinto e o meu coração uma louca sinfonia de agonia que só no colo meigo de minha mãe, entre lágrimas e perguntas, terminava a minha procura e sossegava a minha aflição.
Não entendia como a vida funcionava, tão pouco, ver aquele homem que amávamos partir de nossa casa.
Se era tão bom pra mim viver ali, e ele nos amava, porque que ele não ficava. Fazia de conta nos fazendo dormir e depois ia embora.
Ficávamos esperando outro fim de semana, quando algo não dava errado no seu trabalho ou na sua frágil saúde. Despontava ele então com o sol nascente; um senhor magro, de estatura mediana, de olhos serenos castanhos, cabelos mal definidos, entre o negro e o claro, sempre bem vestido, com passos inquietos, de voz organizada em pausas de contos de fadas e que pacientemente no amadurecer dos verbos do dia, fazia - nos esboçar longos risos e ao final da tarde nos equilibrar no colo em ternos carinhos de suas mãos macias, a refrear assim nossa inquietude infantil .
Já bem mansinhas nos mostrava a lua, nos ensinava a ter cuidado com a natureza, nos mostrava o mar, o pór do sol e nos perguntava sobre a escola. Eu falava, Maria dizia e ninguém se entendia...ele dava boas gargalhadas naquela bagunça, que contagiava-nos. Inclusive aquela magia entorpecia-lhe a alma e dessa
forma, quase sempre, ainda que sem jeito, nos apertava as mãozinhas e inventava tudo ao redor... brincávamos de rodas, de pula corda, de esconde esconde e de casinha. Rolávamos pelo chão e quantas vezes, mais do que sua filha me sentia sua irmã . Era como se aquela vida fosse da realidade a voz mais ouvida.
Entretanto quando o relógio em tom de sino secular acusava o tempo, ele ficava sisudo, vestia-se de adulto e meio que solene dava-nos um beijo, como se aquele fosse o último presente da noite; noite que tão também, já estava com sua flor em serenata no mais alto píncaro dos rios, dos mururés que em paz seguem sem destino nos braços dos igarapés, bem desenhada.
O beijo, despertava o nó na garganta; o silencio cru, a sensação de perda e o frio na alma que ajudava a dor no coração a segredar no limiar dos olhos a única voz de amor expresso em letras da água...as lágrimas, exibidas, escritas com tanta veemência, que ele sem dizer nada, seguiu a rumo ignorado, latejando em pedaços de um sofrimento sem fim.
Foi então que nunca mais o vi.
Porém hoje, eu e minha irmã, ainda procuramos a lua no mesmo lugar, respeitamos a natureza e vemos o mar, admirando o pór do sol, esperando que nessa sombra ele venha nos dá um beijo de boa noite...


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