Depois do "tipo", "tipo assim", "com certeza", "a nível de" e do "tá bom?", entre vários outras, surge agora com grande ênfase a mania do "entendeu?". Entendeu? Me refiro a estes modismos de linguagem que surgem periodicamente, sabe Deus de onde. Entendeu?
O entendeu é o mais novo exemplo e espero dure pouco, se bem que tem vocação para durar muito. Sua função é substituir uma explicação que não se pode ou não se sabe dar ou ainda nos casos em que a explicação é muito longa e se tem preguiça de ir até o final. Joga-se o "entendeu?" na esperança de ser poupado. Como ninguém responde a esta pergunta, assume-se que a mensagem foi passada. Entendeu?
Nas rodas mais finas já há algum tempo vem se usando muito o "até por que" e sua variante o "mesmo por que". Seu emprego mais comum é o de distrair o interlocutor do foco da conversa. Faz-se uma assertiva e completa-se com o "até por que", seguido de um argumento marginal como se fora o ponto mais importante na discussão. Nas questões técnicas o "agregar valor" tem seu papel e o "resgatar" também vem se mostrando de grande valor.
Não sei de onde surgem estas manias mas, com certeza, a nível de linguagem, isto deve resgatar alguma prática antiga, agregando valor à comunicação, até por que a conversa não pode parar sob pena de se estabelecer aquele silêncio completamente sem graça. Por outro lado, sempre é bom demonstrar que se está atualizado. Só pode ser algo assim.
- Entendeu?
- Com certeza
Já o "tá bom?" é uma forma de encerrar a questão dizendo-se o que se gostaria de ouvir. A entonação usada é a de pergunta, mas quem responde? Entendeu? O "tá bom?" é aplicado naquelas situações em que se deseja encerrar a conversa convencendo o interlocutor de que "está bom", em geral quando não está. Algo como um "contente-se". Tá bom?
Há também o "tipo" que em geral significa "como" e sua variante o "tipo assim", que talvez pudesse ser entendido como um, "por exemplo" ou um "quero dizer". Um amigo me relata sobre o "purquiassinhó:" que nada mais é do que a contração de "por que assim ó:", seguido de alguma explicação não solicitada mas que já segue preventivamente. Entendeu? Embora não aprecie, posso perdoar estas últimas por ser coisa de jovem. Jovens sempre tiveram suas gírias, que vão mudando com as gerações. Não chega a ser ruim, a menos que se continue usando gíria pela vida toda. Pior, usando gíria velha. Outro dia ouvi que um amigo de mais idade referiu-se a algumas amigas como "pequenas".
- Vou te visitar
- Não, hoje não. Eu estou com uma pequena
Destes, com certeza, o mais antigo é o com certeza. Que eu me lembre, esta mania tem mais de dez anos. Lembro que quando começou havia um funcionário que em cada três palavras que dizia, duas eram com certeza. O com certeza hoje, tipo assim, já faz parte da maneira de falar do povo e há quem o use na esperança de parecer fino, tipo assim, está falando bonito. Entendeu? Usa-se o com certeza para dizer sim e há quem use também para dizer não.
- Você foi ao cinema hoje?
- Com certeza
- Você gostou do filme?
- Não muito, com certeza
