FESTA DE PADROEIRO
EM NAZAREZINHO
Dezenove de janeiro!...
É véspera de padroeiro
Na minha terra natal.
Todos devotam atenção
Para o São Sebastião
No seu dia especial.
Toda festa se inicia
Com novena, cantoria,
Salmos, reza e ladainha.
Uma banda, divina e boa
De pífanos, na rua entoa
E vai direto à igrejinha.
Nazarezinho é beleza!
Leva esperanças à mesa,
Paz a cada coração.
Por todo campo e cidade
É grande a fraternidade
Neste pedaço de chão.
Mas, a festa eleva o fogo
Quando banqueiros de jogo,
Em grande arte, incomum,
Vendem ali ilusões fartas
Com seu bozó, as três-cartas,
A roleta e o trinta-e-um.
Empresários investidores
Montam, cheios de fulgores,
Seus parques de diversão:
A onda-marinha, enfadante,
Carrocel, roda-gigante,
Canoas rentes ao chão.
Nas calçadas, comprimidas,
Estão mesas de bebida,
Bolo, doce e tapioca;
Nas bodegas, noite em frente,
Se bebe rum, aguardente,
Cerveja, conhaque e vodka.
Tudo ali é diversão!...
Praça, bar e pavilhão
Estão sempre bem lotados.
Comida tem de montão:
Peru, galeto, leitão,
Carne de peba e de gado.
Nas festas de padroeiro
O seu povo é hospitaleiro
E gosta da brincadeira...
No seu dia é tradição
Ter sempre na refeição
A galinha de capoeira.
E quem não tem nesse dia
Uma galinha sadia
Pra servir na refeição,
Deve ser um foraSteiro
Que não tem um padroeiro
Como o São Sebastião.
Nas vésperas dessa festa
Vão chegando camioneta,
Jipe, ônibus, caminhão.
Vem gente de todo lado,
Das capitais de estado,
Do Cariri, do Sertão.
Pra reverem a família
Muitos chegam de Brasília,
São Paulo, Rio de Janeiro...
Todos vêm para matar
As saudades e comemorar
O seu Santo Padroeiro.
E vêm da zona rural:
Cedro, Telha e Pedra e Cal,
Vale Verde e Goiabeira,
Saco da Areia e Sapé,
Timbaúba e Catolé,
De mais alguma ribeira.
Na noite daquele dia
Rua, praça, hotelaria
Mais perecem formigueiro.
Tudo em comemoração
Ao santo Sebastião
Que é o seu padroeiro.
Todos ali sentem a graça
Do bate-papo. a cachaça,
Carrocel, jogo e forró...
Escutam após um chorinho
Ao solo dum cavaquinho
Que soluça em dó maior.
Porém, nem tudo é alegria...
Ao romper do novo dia
Vêm os cruéis resultados.
Excessos e estravagância
Próprios da ignorância
Deixam muitos vitimados.
Alguns que meteram a cara
No jogo de forma rara
Para aumentar seu provento,
Com a expressão de coitado,
Estão com pouco trocado
E muito arrependimento.
E a precária cadeia,
Está, de preso, tão cheia
Que não cabe mais ninguém.
Tudo gente arrependida
Que perdeu com a bebida
A liberdade e o vintém.
Mas,a vida continua.
Vem o sol cobrindo a lua
Com ele um novo esplendor.
O sino, ao longe, o som iça
Chamando o rebanho à missa
Para ouvir o seu pastor.
As três ou quatro da tarde,
No rosto a tez da saudade,
Da esperança e emoção.
Todo povo, em fila, ao alto
Aguarda o seu último ato
Que é a sagrada PROCISSÃO.
É quando.o santo no andor
Com as graças do Senhor,
Pelo povo é conduzido.
Iniciam-se as louvações,
Os cânticos, as orações
Ao padroeiro querido.
Após longa caminhada
Ante à igreja é citada
A última prece ao Senhor.
Pedem-se justiça e paz
E aquele inverno que apraz
A vida do agricultor.
Tarde, vinte de janeiro,
A festa de padroeiro
Chega ao momento final.
Calam-se a música, o hino,
O som plangente do sino,
E a difusora local.
Tudo que era alegria
Transformou-se em nostalgia,
Em ansiedade incomum.
Se pode ver com clareza
A saudade e a tristeza
Nos olhos de cada um.
Quero na última mensagem
Render a minha homenagem
Com carinho, com emoção,
Por fazer, toda essa gente,
A festa mais comovente
Das festas do meu sertão
Do mesmo autor:
Patativa de Assaré,
Bertholt Brecht
Conselheiro
Zumbi
Castro Alves
Margarida Maria Alves
O Mito da Caverna( por Platão)
Outros
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