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Contos-->Evolucao -- 26/08/2000 - 09:39 (Rodrigo Teles Calado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não me recordo dos instantes anteriores aquele momento. Vagamente vinha à minha lembrança a imagem de pessoas que amo, ou amava, é difícil saber o que sinto agora, mas sei que algumas estavam perto de mim. Talvez um carro, talvez dois. Seriam os dois juntos? Não sei, provavelmente. Mas foi um forte clarão, e tudo havia se acabado, ou começado, também não sei ainda. É meus conhecimentos ainda eram pequenos, porém conseguia imaginar que aquele era o meu destino, perto ou longe de onde estava.

Quando acordei, o que vi foram flores. Ou quase. Mas eram coisas belas. Pequenas hastes verdes, singelas e delicadas, todas bastante próximas, apoiadas umas nas outras, mas em plena harmonia. Nenhuma sobreposição. Nas extremidades, haviam focos luminosos, muito diferentes do que eu conseguia lembrar. Eram todos diferentes e ao mesmo tempo muito semelhantes. Parecia uma espécie de algodão luminoso, como fibras ópticas. Cores diversas, alegres e simples. Parecia que aquilo me passava uma energia diferente. E eu nem podia dizer que era vida. Não sabia o que era aquilo.

Depois de muito tempo (ou melhor, se havia tempo naquele lugar) eu resolvi sair da posição na qual estava. Foi ai que eu olhei para o meu corpo; aliás, foi quando percebi que era o que me faltava. Eu não tinha forma, não tinha volume, não tinha massa. Talvez aquilo que eu vi fosse um gás, talvez uma luz. Era bonito, modéstia a parte, isso eu nunca poderei negar. E foi naquele instante que mais coisas eu comecei a perceber. Eu não sentia tristeza, apesar de parecer algo provável na minha situação. Era como se eu tivesse cercado de amigos, de alegria, de fantasia, de amor, de felicidade. E a saudade? Saudade... Exatamente do que eu tento me lembrar. É, não sei o que é saudade, mas algo me trouxe isso à cabeça, ou melhor, à memória. Um sentimento, disso eu sei, mas do que? Seria saudade o que eu estava sentindo da saudade? Que complicado! Espero que alguém me explique, quando me encontrarem. Bom, mas naquele momento comecei a pensar no que aquilo deveria realmente ser... O que você já deve ter concluído.

Depois de rodar à procura de respostas, vi que estava num infinito de flores. Aquelas mesmas flores, mas não havia fim. Por isso resolvi parar. Tentei falar sozinho, e percebi que não tinha voz. Era estranho. E então, me veio um pensamento muito mais estranho. Como se alguém entrasse na minha mente e dissesse: "Bem vindo!". Mas não era exatamente isso. Só sei que logo depois foi o que eu entendi. Como se aquilo fosse em uma outra língua, um idioma celeste,e eu conseguisse entendê-lo depois, na minha mente. E não existia um contato material. Tentei me comunicar daquela maneira, mas não tive êxito, então passei a forçar minha memória. Pensei em tudo o que pude. Então tudo sumiu, e senti que estava voando , num céu azul, sim, como aquele que eu conhecia, sobrevoando uma casa, onde acabei entrando.

Lá dentro encontrei, num quarto familiar, uma mulher bela, de cabelos castanhos, cacheados, olhos grandes, verdes, porém tristes. Ela chorava e parecia não dormir há algum tempo. Aquilo não me fez bem. Vi, numa cômoda ao lado da cama onde ela estava deitada um porta retrato, justamente para onde ela olhava. Era a foto de um homem. Foi estranho, pois acho que eu o conhecia, porém parece-me que depois de um tempo não enxergava a foto com clareza. Acho que era a pessoa que eu vi durante toda a minha vida. A pessoa que eu vi refletida no espelho e com quem evolui. Não penso naquilo como sendo eu, mas como um veículo, algo que me elevara aonde eu estava. Logo depois, vi crianças entrando no quarto. Eram três: um menino, mais moço, uma garotinha e um garotinho. Sim, deviam ser meus filhos. Queria tocá-los, mostrar que estava bem, mas não pude. Tentei falar com a mente, e também foi inútil, mas o que deu certo foi a voz do coração. Não sei se ouviram, mas sei que a mulher começou a orar. E mesmo sem ela dizer uma só palavra, ouvi tudo. E comecei a liberar uma energia incrível, foi fantástico. Como se naquele momento uma orquídea rara brotasse dentro de mim e toda a sua força que ela trazia consigo eu passasse para aqueles meus amados mortais. E foi assim que as últimas lágrimas caíras daqueles rostos que eu não sabia ter um dia tocado com carinho. E foi bom. Depois, sai dali e, num piscar de olhos, ou de luzes, eu voltei para o jardim

Encontrei um caminho, em meio às flores, e vi uma longa trajetória, todinha à minha frente. E era familiar. Parecia que era aquilo toda a minha vida, mas eu estava virado para ela. Então, mudei o meu rumo. Voltei-me para a outra direção, e vi um caminho muito mais amplo, porém inacabado. Era chegada a hora de construí-lo! Então, me concentrei nele e pisquei novamente.

Fui para um imenso campo, com muitas luzes. Luzes como as que eu via no meu corpo. Eram outros seres, que se comunicavam e viviam ali! Sim, era uma nova vida começando! Percebi que tudo fora um simples início, e que eu tinha muito mais a viver. A longa trajetória que eu havia visto, na minha memória já não era tão longa. Mas eu imaginava uma muito mais perfeita à minha frente. E parei de pensar nos meus amados. Só não parei de sentir algo bom, uma vontade de tê-los felizes. Era algo saudável, que trazia uma felicidade suprema. Saudade! Claro, só pode ser. É realmente algo divino, a lembrança que eu poderei carregar. É bom poder sentir isso, e é melhor ainda ter do que senti-la também. Se soubesse, acho que teria lutado para conseguir coisas melhores, e creio que agora seria ainda melhor. Não importa, arrependimento não é necessário, mas creio que ao admitir, estou evoluindo. Agora é isso o que importa.
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