Pássaros
maria da graça almeida
Queria um pássaro
de bonito trinado,
fino adorno aos meus
olhos e ouvidos cansados.
Os maus homens, à solta
-sustos, insultos,
destrato, assalto, cara feia -
cometem crimes e passeiam.
Pássaros cantam e encantam,
presos em minúsculas cadeias.
Cercear a beleza, não!
Encarcerar o canto, não!
Mesmo os querendo perto,
nunca tive a intenção...
Faço meu sonho inverso,
liberto os alados reféns,
livro-os do cativeiro,
soltos enfeitam o além,
em vôos festivos, faceiros.
O pássaro engaiolado
equivale ao animal embalsamado.
Distinguem-se apenas na interioridade,
enquanto um tem a vida dentre as grades,
o outro a tem fora dos limites do corpo.
Em minha varanda, na bandeja,
frutas da estação, sobre a mesa,
regalos aos cantores que, soltos, livres,
chegam e partem,
sempre ao sol que pouco arde,
nas quentes manhãs
ou aos fins de tarde,
recriando em lindas cores
com permissão, sem temores,
os gorjeios da liberdade.
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