Mais das vezes nada digo
Sobre erro que me parece
Porque o erro não carece
De reparo e prossigo
Pra evitar o inimigo
Que por erro habitual
Leve os reparos a mal
Pensando que a correcção
É só pura exibição
A fingir tese normal
O cordel em Portugal
Já muito pouco desfia
E penso que qualquer dia
Terá seu dia final
Dado que o seu caudal
Aos poucos diminuindo
No uso que foi caindo
Consoante a pouca sorte
Daqueles que pela morte
Da vida foram partindo
No entanto fluindo
Em terras do Alentejo
Há um ou outro versejo
Que ainda nos põe sorrindo
Quando alguém se dá parindo
De versos grande carrada
Lenga-lenga bem rimada
Sobre o tempo derradeiro
Da bolota e do sobreiro
Naquela terra queimada
Como se vê aqui dada
Em décimas decorrentes
Singelas e fluentes
A vocação está firmada
Mas desde já condenada
Também a desaparecer
Porque pra tal tecer
Embora deixe uma herdeira
Ela tem outra carreira
E talvez mais que fazer
Ora foi pois com prazer
Que tomei mote a granel
E aqui vim neste cordel
Pelo menos mostrar ser
Um dos que sabem fazer
O mel escorrer do figo
E que sou do verso antigo
Alguém que nesta função
Aos erros da vocação
Mais das vezes nada digo...
