Conheci grande poeta
Que maugrado era manco
Mas em verso entretanto
Atingia sempre a meta
Em primeiro e lograva
Traçar uma linha recta
Por uma torta que estava
Ah... Também declamava
Para ser aclamado
E em verso de pé-quebrado
Sem que lhe fosse notado
Com exacta correcção
Sabia dar-lhe o rodado
Na linha da expressão
Lisboa vibrava então
De noite todos os dias
Com o enorme João Dias
Azedo... Mas coração
Que se ouvia pulsar
Com doçura a emoção
No seu dom de versejar
"Ovelha Negra" sem par
Era no rebanho imenso
Cordeiro e lobo intenso
Que dava pra perdoar
Ou tirava por castigo
Sem um segundo hesitar
Fosse ao seu melhor amigo
Poeta do fado antigo
Com tudo muito certinho
Exigente e corridinho
Como o mel de bom figo
Era um arauto endeusado
Mas manco era um urtigo
Poeta de pé-quebrado
Entende-se o bom recado
Do poeta Daniel
Brasileiro que ao cordel
O melhor de si tem dado
Mas perdoe-se por enquanto
A qualquer versinho manco
Que se exprima libertado
Estou um pouco admirado
Comigo neste momento
De improviso e alento
Com seguimento afinado
Nestes versos um a um
Que fiz firme ao teclado
Sem pé-quebrado nenhum!...
Pensamento em equação:
Felizmente não sou manco...
Mas de vez enquando manquejo
Queira ou não queira... Porquê?!...