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Cartas-->26. À MINHA PRIMEIRA PROFESSORA -- 12/05/2001 - 09:27 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Prezadíssima D. Ordália:

Minha Mestra Querida, sei que esta cartinha vai parecer-lhe absolutamente fora de propósito, que há muito tempo a senhora se aposentou, desiludida do magistério e dos alunos, tanto sofreu na mão de alguns irmãos que só não chamo de energúmenos pelo respeito que lhe devo.

Mas a verdade é que a senhora sempre foi deveras muito rígida (não direi rigorosa), sempre dando em cima dos preguiçosos, colocando como estrelas de primeira grandeza a alguns de nós, felizardos, que tínhamos como compenetrar-nos de nossos deveres e que obtínhamos da inteligência os recursos necessários para compreendermos desde logo as suas explicações.

Quer dizer que a estou acusando de impaciente? Quer dizer que estou dizendo que a sua facilidade de entendimento rápido das coisas lhe sugeria que todos deveriam resolver com a mesma desenvoltura todos os problemas que nos propunha. Os de cabeça mais dura, coitados, ficavam na berlinda e eram despachados para a série seguinte com os débitos naturais de um esquecimento voluntário de sua parte.

Mas a senhora teve o revide na hora certa, quando se atreveu a ir adiante em seus estudos e passou a ministrar aulas em séries mais adiantadas. Nessa época, eu não estava por aí e só fui inteirar-me das agruras de sua jornada muito depois, quando já era tarde demais para interceder a seu favor.

Faço-o agora aos benfeitores que me auxiliam a decifrar os mistérios de sua vida atribulada, porque me foi facultado conhecer alguns de seus problemas com as demais personagens de sua existência, razões mais do que ponderáveis a justificar as medidas de desagravo do destino, muito embora os que não estudavam a contento devessem receber outra espécie de reprimenda e não o seu desproporcional e fortuito revide.

Mas não tome as minhas palavras como mais um desforço de compensar frustrações, porque eu não tenho nenhuma queixa a fazer-lhe, queridinho que sempre fui, a merecer cuidados e atenções especiais. Por isso é que me atrevo a certas censuras tão diretamente colocadas, correndo inclusive o risco de me ver atingido por ondas de vibrações negativas, porque estou falando-lhe a verdade. Em todo o caso, mentir é que a senhora jamais me ensinou.

Deveria pegar mais leve, com certeza, se nos encontrássemos numa festividade de tantos ou quantos anos de formatura, mas tal é impossível e a senhora bem sabe quanta raiva passou no último encontro desse tipo a que foi convidada. Sabe-me agora a profundo desgosto esta recriminação obrigatória, mas devo adverti-la de que já está passando a hora de reaver do passado as lembranças na qualidade de lições, que tudo o que fizemos um dia deve refletir-se no presente, ou não teremos como orientar o nosso futuro, muito especialmente quando se trata de vislumbrar a nossa existência na espiritualidade.

Quer dizer que podemos resgatar os gritos e xingos com que brindamos os desrespeitosos? Perfeitamente, mas não vou dizer-lhe para procurar um a um, que seria ridículo bater de porta em porta, rogando por compreensão e por perdão. O que foi feito, nesse caso, está acabado e concluído. O problema é serenar o coração perante as ondas e eflúvios negativos que serão lançados contra os mal queridos, rogando ao Senhor que considere a fragilidade dos espíritos e que propicie a cada um recursos para a superação dos males que quedaram nos refolhos das consciências. No fundo, o que estou a requerer-lhe deverá ser o mesmo que deverá solicitar para quantos tiverem péssimas recordações de seu tratamento magisterial.

Professora Ordália, tenha comiseração por este que rompeu o silêncio, sabendo que está protegido pelo mistério da morte. Mas não veja nestas linhas algo mais do que uma positiva reminiscência de seu empenho em me fazer estudar e progredir. Não quero insinuar que não fosse capaz de escrever com o mesmo desembaraço e lucidez se outra tivesse sido a minha primeira professora. Talvez, no entanto, não tivesse compreendido tão cedo a responsabilidade perante os deveres.

Também não quero acusar tantas levas de alunos que não foram capazes de acompanhar a sua intenção de alçá-los a um grau de superior cultura, todavia, não posso deixar de assegurar que muitos deles se demoraram em platôs de dificuldades que um gesto mais carinhoso teria contornado.

Fique em paz e serenamente vá arquitetando um modo de superar os graves problemas de relacionamento etéreo que esperam pela senhora.

Paz em Jesus!

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