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Cronicas-->Acordou mal -- 11/12/2002 - 12:31 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fernando acordou mal. Não sabia por que, mas queria quebrar tudo. Olhou para o cachorro, mas este percebeu logo a situação, deu uma rosnada e se retirou para o sofá da sala onde ninguém lembraria de procurá-lo. Há anos ele dorme sobre o sofá da sala sem que ninguém imagine seu paradeiro.

Embora fosse feriado acordara cedo por força do hábito e sua estranha vocação para terrorista irlandês apareceu sem motivo. Foi para a cozinha tomar café e atacou a mulher. Iniciou reclamando do café da manhã. Considerando que era feriado, bem que ela podia ter caprichado um pouco mais. Talvez um presunto gordo em lugar da mortadela habitual, um chá diferente, um creminho no café, cereais com leite, como aparece na TV. Alguma coisa, um charme qualquer.

Ela olhou torto e, mesmo sem dizer uma palavra, explicou que os direitos das mulheres evoluíram muito nos últimos anos, embora ele não tenha percebido. Que as mulheres, incluindo as donas de casa, também tinham todo o direito a aproveitar os feriados e que, se já tinha preparado o café, era apenas uma especial gentileza e que, em contrapartida, caberia a ele guardar as coisas e lavar a louça. Completou dizendo que do ponto de vista dela, já estava escolhendo o restaurante onde iriam almoçar, dado que o estoque de gentilezas do dia se esgotava ali mesmo no café, mercê do mau humor com que ele levantara, para o qual ela não havia contribuído. Antes, muito ao contrário. Já no primeiro olhar ele entendera e já estava achando o café ótimo e se resignara com a tarefa atribuída. Ele compreendeu logo.

Contudo, a vontade de quebrar persistia. Foi até o quarto da filha e abriu a porta sem bater, iniciando um discurso sobre a indolência da juventude dos dias de hoje que em lugar de aproveitar o sol e a manhã na prática de esportes e na sadia convivência com amigos, insistia em ficar dormindo como se o dia não tivesse começado. A menina acordou, gritou um "fecha a porta" e voltou a dormir, não sem antes ligar a TV no canal da Sony, aquele que só passa propaganda de seriados. Ele, fechou logo a porta, rosnando, dizia que era culpa da TV, primeiro a do Marinho, depois estas estrangeiras que só passam seriados.

Ele insistia. Começou a falar mal do governo, este pelo menos só poderia responder com uma ou outra sobre-taxa, nada pessoal. Falou mal do apagão, da provável falta d´água, da tabela do imposto de renda, do Jader, do ACM, do Dutra, dos salários, da situação das estradas, do desemprego, da falta de apoio à cultura, dos interesses escusos e seguiu falando por mais de uma hora. Falou a mais não poder.

Depois foi lavar a louça.
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