Usina de Letras
Usina de Letras
94 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62145 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13566)

Frases (50551)

Humor (20021)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140784)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6175)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->As profecias de Laços de Poder -- 22/04/2002 - 22:49 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS PROFECIAS DE «LAÇOS DE PODER»



Francisco Miguel de Moura *







Tem-se como certo que uma das funções da arte é adivinhar, antecipar certos acontecimentos ou o futuro de uma comunidade ou de um povo. Daí a idéia, nalguns a certeza, de que as artes, especialmente a poesia e por extensão a literatura, são divinas, colhem os mistérios do céu, e o poeta é um profeta.

Embora tenha que ferir a modéstia, dou o meu próprio exemplo. Em 1985, quando escrevi «Laços de Poder», posteriormente laureado pela Fundação Cultural do Piauí com o prêmio «Fontes Ibiapina» para romance, sob a forma de ficção previ algumas tendências e fatos que só na década de 90 iriam desencadear-se. Infelizmente pouca gente lê romances, nesta terra, mas quem o lesse agora, comprovaria.

Para efeito didático, enumeremos algumas dessas antecipações de «Laços de Poder»:

1. A quebra dos bancos, especialmente os estatais, que começou com os do Estado da Paraíba e do Piauí.

2. A quebra do estado brasileiro como instituição ineficiente, empregadora de afilhados políticos e corruptora da vida nacional através de seus mecanismos burocráticos.

3. A onda de aparecimento e crescimento das seitas protestantes e do espiritismo no Brasil, conseqüentemente a perda de monopólio da igreja católica e a perseguição por Roma àqueles elementos do clero que tenham uma visão independente como a chamada «teologia da libertação.»

4. Finalmente, a onda de seccionamentos de órgãos genitais masculinos pelas mulheres, a partir do caso de castração (também política) de Bartô, a mando de Miriam, sua namorada.

Também na forma, «Laços de Poder» se antecipa. Não se conhecia até então, no Brasil e talvez no mundo, nenhuma obra que começasse e terminasse pela mesma frase, formando a figura literária que João Felício dos Santos, grande romancista recentemente falecido, chamou de «epanadiplose». A forma de apresentação dos diálogos, já sem os tracinhos denunciadores, já sem a definição de quem fala, ficando a cargo do leitor colocá-los na boca de quem achar melhor - não se trata do diálogo interior verdadeiro nem do falso diálogo interior - penso que é uma conquista, uma criação formal minha. Não gostaria de falar tudo, pois o autor não deve ser o crítico de si mesmo, especialmente quando se trata de apresentar o que é positivo. Mas, como não existe mais crítica como antigamente...

Com respeito ao ponto de vista, outra mola fundamental do gênero, «Laços de Poder» começa na primeira pessoa, por isto houve até quem pensasse em romance de cunho memoriaístico. Não é. Na segunda parte, está escrito na terceira pessoa, é ponto de vista de Miriam. E termina na primeira do plural: Cirilo e Miriam, no seu drama, na sua tragédia.

Digam que sou pretensioso, que isto já aconteceu aqui e ali, etc. etc. Estarei atento a ouvi-los e pedirei comprovação.

Teria muito mais a referir. Por exemplo, o sonho ou pesadelo de Cirilo na primeira parte é pura antecipação, pois, na vida real do romance, vai acontecer quase tudo, especialmente a essência do sonho.

Espera-se criação, originalidade e maior emoção quando a obra vem de Flaubert, Proust, Dostoiévski, Joyce. No Brasil são poucos, vale a pena citar Machado de Assis e talvez Guimarães Rosa. Não pretendo comparar-me a nenhum dos gênios mundiais, mas, sem falsa modéstia, quero explicitar minhas contribuições à construção do romance moderno.

A precedência do que acima apontamos é de «Laços de Poder». Ele estaria anunciando a transformação do homem e da sociedade como um todo, no final deste século, 1989. A glória é maior pelo fato de saber-se que o Piauí é um território ainda praticamente isolado do resto do Brasil e por isto poucos tomaram conhecimento.

Alegra-me que o famoso crítico Fausto Cunha me tenha escrito uma carta que é uma consagração, sem esquecer a anterior e mais importante - a apreciação de João Felício dos Santos, de 1988, aparecida na orelha da edição de «Laços de Poder», 1991. Parte da carta de Fausto Cunha já dei conhecimento ao público, na contracapa de «Ternura», meu último romance. Mas tenho que transcrevê-la aqui. Suprirá, certamente, a penúria de crítica que nós, romancistas deste fim de século, sofremos. Ei-la:

«Rio, 23.8.1991. Somente nestes meados de agosto pude encetar a leitura de seu romance LAÇOS DE PODER, recebido em princípios de maio. Ler por ler, ou ler por alto, a gente faz com qualquer livro, mas um romance, e mais um romance apresentado pelo meu saudoso amigo João Felício dos Santos, requer um mínimo de tranqüilidade contínua.

É de fato uma esplêndida apresentação e deve ter sido uma das últimas páginas escritas por ele, com quem fui (cada vez mais surdo, o bom Felício) a uma editora para ver as provas de um livro até hoje não lançado. Na verdade, João Felício dos Santos ainda não teve o reconhecimento que merecia como romancista: Ênio Silveira, o editor da Civilização Brasileira, considera-o um dos nossos maiores escritores. Era bom poeta e um ator nato (Xica da Silva).

LAÇOS DE PODER foge do linear, da narrativa direta, desenvolvendo-se mais como um painel em que personagens, cenas e episódios se dispõem numa estrutura que João Felício dos Santos chama de estilo materialista-naturo-realista. Todo o clima é criado pelas neuroses, pelas doenças, pela violência e pelas relações de poder, poder político e poder pecuniário. Nietzsche num dos seus livros denunciava a conspiração dos doentes contra os sãos, verberando acima de tudo a arma infalível de que eles se servem: a comiseração. Exatamente o que V. diz à p. 152. E passando pelas sessões espíritas, pelas romarias, toda essa estratégia de dominação de um outro poder, o religioso.

Agradecendo-lhe a remessa de seu excelente romance, mando-lhe meu abraço muito amigo». as.) Fausto Cunha.

___________________________

*Francisco Miguel de Moura é escritor, mora em Teresina (Av. Juiz João Almeida, 1750 – CEP:64049-650). Fones: (86) 233-5218 e 233-8329. e-mail: franciscomiguelmoura@ig.com.br

fcomiguelmoura@aol.com

www.pan1.hapg.com.br

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui