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cronicas-->Maria Clara - Sua Saga -- 10/12/2002 - 07:59 (Monica Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Naquela tarde ela não pensou em nada. A garoa fina. O dia cinza como ela.
Deixava, agora, para trás tudo que foi seu um dia.
Dentro de uma mala qualquer, colocou poucas coisas. Coisas desconexas.
Uma canga colorida, uma garrafa d´água, pão com doce de leite, caderno, livros e sua caneta verde.
Juntou suas poucas moedas.
Tudo na sua vida era pouco.
Roubou uns trocados, abriu a porta e foi.
Tudo na vida dela era assim. Sem olhar para trás e nem pensar em nada.
Talvez por ter pouca coragem para arcar com as consequências de seus atos.
Talvez por muita coragem de mudar tudo na sua vida se repente.
Subiu em um ónibus. Sem destino.
O céu cinza como ela.
Apenas marcas na pele lembravam o seu passado. Esperava agora ser uma outra pessoa.
Maria Clara não sabia quando acabar.
.
.
.
Acordou. Viu o céu cor-de-rosa.
Desta vez ninguém diria a ela a que horas dormir, acordar ou comer.
Seu corpo era seu relógio.
Seu corpo era a única coisa real que possuía.
A noite gelada de inverno. Não sabia onde dormir. Não sabia o que comer.
Resolveu ficar ali mesmo.
Tudo ao seu redor era colorido.
Maria Clara, preto-e-branco.
Crianças e seus bichos de pelúcia, mulheres perfumadas. Homens, ternos surrados. Migrantes, malas de couro.
Sabia que poderia ficar.
Olhava e não via. Apenas sentia a solidão.
Horas passando.
Sabia que não podia mais ficar ali. Sabia que devia partir.
Down Town, como dizia a música.
Prostitutas amarelas, meias vermelhas, luzes negras, homens brancos.
Cama, papelão, fogareiro. Bule amassado, colcha furada, cortina rasgada.
Seu novo lar.
.
.
.
E mais um dia diferente em sua vida.
Mais um dia que iniciava sem ter hora para acabar.
Dias em sua vida não significavam mais vinte e quatro horas.
Não significavam mais acordar, comer, dormir.
Agora, como nunca, Maria Clara não saberia dizer onde tudo começava e onde tudo iria acabar.
Dias cíclicos, horas cíclicas, dias e noite sem fim.
Não tinha padrões. Não queria seguir padrões.
Era só ela.
Sentiu fome, não tinha o que comer.
Catou as sobras da mesa de um bar.
Andou pelas ruas escuras, chão molhado da garoa fina.
Era uma alienígena. Não importava onde estava.
Mas não se consegue enganar o próprio corpo.
Sentia fome.
Sentia fome de homem. Desejo. Libido.
Tudo à flor da pele.
O cheiro de suor a seduziu. Queria sugar toda alma dele.
Comprou seu pão.
.
.
.
Pela primeira vez tinha trocado sexo por dinheiro.
Queria dinheiro. Precisava de sexo.
Maria Clara não podia trabalhar em um escritório verde-água, porta-caneta e post-it.
Suas cores eram outras.
Carpet bege, paredes brancas, banheiro rosa.
Cuspiu.
Seguiu em frente.
Vomitou em uma esquina.
Virou na próxima.
Entrou no bar recém aberto.
Bebeu cachaça. Comeu pastel. Saiu sem pagar.
Rímel borrado, meia rasgada.
Trocando as pernas pela calçada.
Era apenas um esboço do que viria a ser.
Era apenas um vulto do que um dia foi.
.
.
.
Um dia acordou.
Na mesma cama de colcha azul.
Viu seus bichos na estante e o prédio da frente tapando o sol da manhã.
Escovou os dentes.
Comeu pão com manteiga, coca-cola geladinha.
Mais um dia como os outros.
Mochila nas costas e ónibus lotado. Era hora de encarar a realidade.
.
.
.
E um dia continua... quem sabe?
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