Por que escrevo sob um pseudónimo?
Porque talvez não tenha coragem de dar a cara para bater.
Talvez porque eu me sinta mais à vontade sabendo que as pessoas não vão saber que sou eu quem está falando.
Porque talvez eu seja muitas em uma e Maria Clara seja mais uma de muitas.
Bem provável que seja bem isso. Maria Clara sou eu na prática. É ela quem executa grande parte dos meus sonhos.
Ela é Clara, transparente, sem sentido como eu.
Ela é Maria. Como todas as outras.
Maria Clara é corajosa. Enfrenta o mundo enfrenta os medos. É um monstro atrás do qual eu tento me esconder.
Maria Clara é vadia. Dá no primeiro encontro e não liga para o que os outros pensam.
Eu sou vadia também. Mas ninguém sabe. Talvez porque seja Maria Clara quem esteja lá.
Maria Clara é blasé. É preto-e-branco. É como aqueles mendigos de cartola. Maria Clara mora na rua, não tem medo da chuva.
Maria Clara toma vodca. Rouba maçã. Shampoo no supermercado. Saleiro de restaurante.
Nunca vê tv, nunca dorme.
Maria Clara é simples, eu sou complexa. Ela esconde. Eu me escondo atrás dela. Ela vira as costas e vai embora. Eu fujo.
Ela senta e sai. Eu fico batendo sempre na mesma tecla.
Não se importa com erros e com os estragos que vai deixando pelo caminho. Eu fico tentando apagar o rastro que vou deixando.
Cagando e andando. Eu limpo. Maria Clara segue seu caminho.
Prazer, sou Maria Clara.