Não herdei o caixão porque o cunhado comprou a funerária
Depois de muito tempo
De vivência com a mulher
Aquela que um dia casei
Com amor e muita fé.
Inda lembro era verão
E o sogro fazia caixão
Olha como a vida é.
Pensava que o caixão
Estava já garantido
Nunca pensei em mudanças
Pra mim não tinha sentido
Mas o sogro ganhava os anos
E eu o desengano
Não fiquei aborrecido.
Com os anos meu sogro
Parou de fazer caixão
E entregou logo a tenda
Para Gilson o irmão
De minha querida mulher
Veja como a vida é
Acabou minha ilusão.
A esposa que pensava
Que o féretro não ia comprar
Caso um dia morresse
Para poder me enterrar
Não pensava jamais
Desta despesa a mais
O jeito foi conformar.
Pensando com meus botões
O cunhado não é ruim!
Vendo a irmã chorando
Vai ter pena de mim
Ofertará o caixão
Para eu levar pro chão
Onde terei o meu fim.
Minha esposa tem medo
De não ganhar o caixão
Porque às vezes o Gilson
Viaja muito de avião
Só vive nos Estados Unidos
Fica um tempão sumido
Que nem lembra daqui não.
Do jeito que as coisas estão
Vou ficar preparado
Irei à funerária
Pagarei antecipado
Morro sem dever ninguém
Destas terras de Itanhém
Irei despreocupado.
Procure Juca Ribeiro
Pode abrir sua sepultura
Separe os seus ossos
E capricha na largura.
Em cima duas frases discretas:
Aqui jaz um poeta
Que fazia literatura.
Amou esposa e filhos
Respeitou seus companheiros
Foi rico de amizades
E pobre de dinheiro
Não herdou bens materiais
Pois não tinha bens os pais.
Esse foi o Airam Ribeiro.